O Estado de São Paulo, n.46285, 08/07/2020. Política, p.A4

 

Após minimizar pandemia Bolsonaro contrai a covid-19

Julia Lindner

Jussara Soares

Daniel Weterman

08/07/2020

 

 

Executivo. Resultado divulgado ontem repercute no exterior e presidente cancela compromissos dos próximos 15 dias; pelo menos 13 ministros também fazem testes

Positivo. Bolsonaro retira máscara do rosto ao falar com jornalistas sobre seu diagnóstico

O presidente Jair Bolsonaro informou ontem que contraiu a covid-19. Divulgado pelo Planalto, o exame foi feito anteontem, sem usar codinome para identificação do laudo, ao contrário de outras três vezes em que o presidente recorreu a pseudônimos na hora da coleta. O resultado positivo do chefe do Executivo ganhou repercussão internacional e obrigou a cúpula do governo a também fazer novos testes.

Pelo menos 13 ministros que se encontraram com o presidente ao longo dos últimos dias fizeram exames de covid-19, entre eles Paulo Guedes (Economia), Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Jorge Oliveira (Secretaria-geral), André Mendonça (Justiça), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Roberto Campos Neto (Banco Central).

Nos últimos dias, Bolsonaro teve contato com pelo menos 55 pessoas, entre políticos, empresários e autoridades. Em alguns desses encontros, o presidente não usou máscaras e apertou as mãos ou abraçou alguns dos seus interlocutores. Desde o início da pandemia, mais de 1,6 milhão de brasileiros foram infectados pelo novo coronavírus. O total de mortos já ultrapassa 66,7 mil.

Em entrevista a jornalistas de TVS no Palácio da Alvorada, o presidente afirmou que já iniciou o tratamento com hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a doença, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Bolsonaro tem 65 anos e faz parte do grupo de risco da doença, mas disse que não está sofrendo com os sintomas mais graves por causa do uso precoce do medicamento. "Então, eu confio na hidroxicloroquina. E você?", disse, em vídeo divulgado ontem nas redes sociais . O presidente tem minimizado os riscos da doença, que já chamou de "gripezinha". Já disse que não teria problemas por ter "histórico de atleta" e classificou a pandemia de "histeria".

Ele cancelou os compromissos previstos para os próximos 15 dias, mas pretende continuar trabalhando da residência oficial. "Vou ficar despachando por videoconferência. E assinar alguns papéis aqui", afirmou.

Ao anunciar ontem a jornalistas que foi infectado pela covid19, o presidente chegou a tirar a máscara no fim da entrevista. "Estou bem, graças a Deus. Os que criticaram também, não tem problema, podem continuar criticando à vontade."

Anteontem, mesmo após ter feito o exame, Bolsonaro chegou a se aproximar de apoiadores e tirar fotos, contrariando as recomendações de distanciamento social da OMS.

Sintomas. Os primeiros sintomas da doença, de acordo com o relato do presidente, começaram ainda no domingo. No sábado, Bolsonaro foi a Santa Catarina sobrevoar área atingidas por um ciclone e se encontrou com autoridades locais. No mesmo dia, ele esteve na residência do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, com ministros e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República. Ele não usou máscara e se confraternizou com abraços, de acordo com imagens divulgadas pela Presidência da República.

"Começou domingo com uma certa indisposição e se agravou durante o dia de segunda-feira com mal-estar, cansaço, um pouco de dor muscular e a febre no final da tarde chegou abater 38 graus( Celsius ). Daí, com o médico da Presidência e com os sintomas apontando para a covid-19, fomos fazer uma tomografia no Hospital das Forças Armadas", afirmou.

Anteontem, Bolso na rojá havia feitou mexa medos pulmões, no Hospital das Forças Armadas, e disse a apoiadores que estava "tudo limpo". O período de incubação do novo coronavírus vari ade 2 a 14 dias, mas é mais comum que os sintomas se manifestem entre o quinto e o sétimo dia após a infecção, segundo estudos mais recentes.

Procurado ontem, o Planalto não se manifestou sobre o motivo de o chefe do Executivo ter deixado de usar codinomes desta vez ao fazer exame.