Título: PMDB pede a bênção de Lula
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 23/02/2013, Política, p. 4

Presidente da Câmara assume o papel de emissário da legenda e, em encontro com o cacique petista, ouve a sinalização de que a aliança será mantida nas eleições de 2014

Em um momento de incerteza dos peemedebistas sobre a continuidade da aliança com o PT nas eleições presidenciais de 2014, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), agiu como emissário do partido na tentativa de evitar a dissolução do acordo na próxima corrida pelo Palácio do Planalto. Ontem, em uma “visita de cortesia”, Alves se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e conseguiu cumprir a missão: ouviu do cacique petista que ele repudia qualquer plano de substituir o PMDB na chapa da campanha pela reeleição de Dilma Rousseff, tendo como vice Michel Temer.

Buscando refazer pontes com o partido, Lula ligou para Alves logo depois da eleição para o comando da Câmara, no início do mês, parabenizando o deputado potiguar. Em retribuição ao gesto, o parlamentar foi a São Paulo para se encontrar com Lula ontem e fez o papel de “batedor” do PMDB na articulação com o ex-presidente. Os dois conversaram por quase duas horas na capital paulista. “Ele foi muito afirmativo de que essa aliança, pelo seu êxito, deve continuar”, disse o presidente da Câmara, ao sair da reunião. “A relação Dilma-Michel é, a meu ver, uma coisa consolidada, resolvida. Senti claramente isso hoje (ontem) nas palavras do (ex) presidente Lula e da presidente Dilma (em outras ocasiões).”

No fim do ano passado, pessoas próximas a Lula viam como “favoráveis” as chances de formação de uma chapa entre Dilma e o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos. A interlocutores, Lula chegou a cogitar o lançamento de Temer para a disputa do governo de São Paulo em 2014. As declarações irritaram o partido, que reagiu por meio de nota oficial à imprensa, declarando que Temer rejeitava “qualquer possibilidade de disputar o governo do estado” . “Um sinal desse descontentamento foi a eleição de Eduardo Cunha (PMDB–RJ) para a liderança do partido na Câmara, a despeito da clara oposição que Dilma Rousseff fazia ao nome do parlamentar fluminese e a quem quer que ele indicasse para o segundo escalão no governo”, conta um peemedebista de alta patente.

Agora, após a movimentação de Henrique Eduardo Alves duas semanas antes da convenção nacional do PMDB, a indisposição começa a ser contornada. Além da aproximação a Lula e da declaração de apoio do cacique petista, o presidente da Câmara aproveitou na ocasião para fazer afagos públicos aos socialistas, a fim de evitar qualquer ruído. “Nós queremos muito o PSB e o governador Eduardo Campos. Eles já participam do governo Dilma”, disse o peemedebista, ressaltando a importância, para 2014, da presença do partido na aliança pela reeleição presidencial.

Esforço Alves foi a São Paulo com o vice-presidente Michel Temer, que não participou da reunião. De acordo com o parlamentar, Lula deverá se encontrar com Temer nos próximos dias, como parte desse esforço para acalmar os ânimos dentro da legenda aliada.

No mesmo sentido, Lula e Dilma também sinalizam o atendimento ao pleito da fatia mineira do PMDB por uma pasta na Esplanada. A bancada do estado é a mais inconformada com a demora do governo em ampliar o espaço da sigla no primeiro escalão e tem feito insistentes ameaças, incluindo a possibilidade de apoiar a candidatura do senador tucano Aécio Neves (PSDB-MG) ao Palácio do Planalto.

Ao sair da reunião, Alves negou ter tratado com Lula a questão da cassação do mandato de deputados petistas condenados no processo do mensalão. “Não há a menor possibilidade de confronto entre os Poderes”, afirmou Alves, ao dizer que a Câmara não vai se opor à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a condenação dos parlamentares envolvidos no escândalo.

FHC: país tem um “presidente adjunto” O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ironizou os ataques do PT ao seu governo ao dizer que o sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiu instituir a “presidência adjunta” ao deixar o poder. “Ele está tão ligado às coisas do governo (Dilma Rousseff) que dá a impressão de ser presidente adjunto. Não acho isso institucionalmente bom”, comentou o tucano, sugerindo que os petistas deveriam buscar a ajuda de um psicólogo. “A relação do PT com meu governo é uma questão de psicanálise: tem de tirar o pai da frente”, brincou, após seminário de economistas no Rio de Janeiro em homenagem aos 70 anos do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.