Título: Mesmo com luz barata, inflação não dá trégua
Autor: Nunes, Vicente; Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 23/02/2013, Economia, p. 10

Prévia do índice oficial, o IPCA-15 registra alta de 0,68% em fevereiro e supera todas as estimativas de mercado. Alimentos, educação, aluguel, gasolina, tudo ficou mais caro, assustando os consumidores

Apesar de todos os esforços do governo para amenizar os efeitos do custo de vida que atormenta os brasileiros, a inflação voltou a surpreender e não dá sinais de trégua. Prévia do indicador oficial calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15 apontou alta de 0,68% em fevereiro, superando as estimativas mais pessimistas do mercado. O resultado só não foi pior graças à queda de 13,45% na conta de luz, que tirou 0,45 ponto percentual da taxa. Não fosse isso, o IPCA-15 teria cravado 1,13%. Nos últimos 12 meses, o indicador subiu 6,18%, o maior desde janeiro de 2012.

O governo optou por ver o número com otimismo, ao destacar que o IPCA-15 desacelerou em relação ao 0,88% de janeiro, um sinal de que a inflação está perdendo força. Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, o recuo foi puramente estatístico, já que a presidente Dilma Rousseff correu para reduzir o valor da energia elétrica e evitar um desgaste maior com a alta do custo de vida. Na avaliação de Leal, a disparada de preços no país é preocupante. Ele estimativa alta de 1,50% para os alimentos, e o reajuste foi de 1,74%. No caso do vestuário, a expectativa era de queda de 0,52%, devido às liquidações do fim da estação privamera-verão, mas houve alta de 0,01%. No grupo habitação, em vez de 1,05%, os aluguéis subiram 2,26%, e os condomínios, 1,35% ante 0,85%.

Diante desse quadro, o economista aumentou as projeções para o IPCA fechado de fevereiro. Até ontem, ele acreditava que o índice ficaria entre 0,40% e 0,45%. Agora, prevê uma taxa de 0,50% a 0,55%. Essa revisão foi acompanhada por todo o mercado, assustado com a disseminação dos reajustes. Do total de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, 71% apontaram correção, minando o bolso dos consumidores. Que o diga a técnica de laboratório Teresinha Albuquerque, 62 anos, que está sendo obrigada a encolher, semanalmente, a lista de compras nos supermercados.

“Não dá para acreditar no que estamos vendo. Os preços estão altíssimos. A cada ida ao supermercado, não gasto menos de R$ 50. E sempre compro menos. Por mês, a fatura já está passando de R$ 1 mil”, afirmou Teresinha. Para ela, chegou a hora de o governo dar um basta na carestia, pois não adianta ter um aumento de salário, se a inflação está comendo tudo. “Tomate, ovos, frango, frutas. Tudo está caro demais, com alta de mais de 30% desde o início do ano”, assinalou.

Desânimo A dona de casa Maria Tereza dos Santos, 67, endossa a insatisfação. “Só de entrar no mercado você já leva um susto. Não há como aguentar tantos aumentos em tão pouco tempo. O pior é ver que, no caso dos legumes e das frutas, está caro demais e a qualidade, péssima”, destacou. Segunfo o militar Ronaldo Costa, 43, para não faltar nada em casa, o jeito está sendo comprar em menor quantidade, sobretudo carne bovina. “De uma semana para a outra, o quilo da picanha passou de R$ 23 para R$ 27. Os preços estão um absurdo. Toda semana gasto R$ 150 só para completar despensa”, declarou. “Desse jeito, ninguém aguenta”, desabafou.

Para acalmar os ânimos da população, o governo está depositando todas as fichas na safra recorde de alimentos neste ano. Mas os especialistas não creem em redução dos preços mesmo com a oferta maior de produtos. “Todo mundo espera safra recorde e o governo conta com isso para que não ocorra pressão de preços. Mas estamos um pouco pessimistas. Ficar apostando em melhora de clima, melhora de safra para derrubar preços, acho um pouco arriscado”, disse o economista da Claritas Investimentos Felipe Carvalho. Ele lembrou que também pesou no IPCA-15 o grupo educação, com a maior alta deste mês, de 5,49%, devido ao forte reajuste das matrículas e das mensalidades escolares. Já os preços da gasolina avançaram 1,96%.