Título: Pibinho derruba emprego
Autor: Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 23/02/2013, Economia, p. 12

A atividade em baixa e a elevação do custo de vida levaram os empresários a contratarem menos. O resultado da geração de postos em janeiro caiu 75,7% ante o mesmo mês em 2012

O fraco desempenho da economia e a expectativa de inflação mais próxima do teto da meta estabelecida pelo Banco Central (BC) — de 6,5% ao ano — tiveram um forte impacto no mercado de trabalho e acenderam o sinal de alerta nos empresários. Eles temem que um possível sinal, por parte do BC, de alta, ainda que pequena, dos juros provoque uma onda de inadimplência, por causa do crescente número de demissões e desligamentos em setores estratégicos.

A geração líquida de empregos formais, em janeiro, caiu 75,7%, se comparada ao mesmo mês do ano passado. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram criados 28.900 postos com carteira assinada, ante 118.895, em 2012. O resultado, embora 0,07% superior ao registrado em dezembro passado, foi o pior para meses de janeiro desde 2009, no auge de crise econômica mundial.

O recuo frustrou até mesmo as expectativas do diretor de Emprego e Salário do MTE, Rodolfo Torelly, que o classificou o resultado de “tecnicamente ruim”. Ele esperava a geração de, pelo menos, 100 mil vagas em janeiro. Apesar de avaliar que a perda de dinamismo no mercado de trabalho se mantém desde 2012, Torelly, no entanto, ponderou que o número “não é péssimo porque foi positivo”.

“Acredito que as medidas do governo vão mostrar efeito a curto prazo, ainda neste primeiro semestre”, ressaltou o diretor do MTE. Ele admitiu que a previsão anterior, de 1,7 milhão de novas vagas para este ano, está mais difícil de ser atingida. “Vamos aguardar o resultado do primeiro trimestre. Se continuar com esse crescimento, é claro que não vamos conseguir atingi-lo.”

De acordo com o saldo líquido de cada tipo de atividade, o comércio foi o principal responsável pelo resultado frustrante do Caged, pois, com a extinção de 67.458 postos, teve o pior resultado desde o início da série histórica, em 1992. Ao lado dele, vem o setor de serviços, que cresceu apenas 0,09% (geração de 14.746 vagas), também abaixo do esperado. O dado final não foi pior, disse Torelly, por causa da indústria de transformação (criação de 11.612 empregos) — quarto melhor desempenho da série histórica — e da construção civil (10.522).

No recorte geográfico, o balanço do ministério mostra que apenas duas regiões expandiram o nível de emprego em janeiro. A primeira delas foi a Sul, com 48.843 postos, ou 0,69% a mais que janeiro do ano passado. E a segunda, a Centro-Oeste (16.335 vagas, alta de 0,54%), com destaque para o estado de Mato Grosso (9.096, alta de 1,49%). O Distrito Federal criou 848 vagas (crescimento de 0,11%).

Perda de fôlego Os números do Caged vieram muito abaixo do que os analistas esperavam. “É um sinal de alerta para o governo. Mostra que o pibinho (diminutivo de Produto Interno Bruto, o PIB) e a queda nos investimentos pelo quinto trimestre consecutivo interferem no mercado de trabalho, que, geralmente, sente os impactos um pouco mais tarde. O minguado crescimento de 0,07% ajuda ainda a reforçar a tese de que o Banco Central não tem muito o que fazer, a não ser manter os juros no patamar de 7,25%”, destacou Eduardo Velho, economista-chefe da Corretora Prosper.

Por outro lado, assinala ele, a desconfiança do empresariado continua em alta, pois, apesar de todos os estímulos do governo, os setores de indústria e serviços empregaram pouco e desovaram estoques. “As expectativas sobre qual será o próximo passo da equipe econômica deixam os investidores cautelosos. Ainda paira a ameaça de alta dos juros para conter a inflação, o que mantém o nível de demanda em compasso de espera. Ninguém ousa produzir se não tiver encomenda”, analisou Velho. Além disso, ele acredita que seja possível alcançar a meta de 1,7 milhão de empregos para 2013. “Não creio seja possível criar cerca de 200 mil vagas por mês. É um número muito ambicioso”, assinalou.

Para Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimentos, a preocupação maior não é o mercado de trabalho. A alta da inflação é o ponto nefasto. “O governo está satisfeito com 5,8% para este ano. Nós, não. É um percentual muito alto.” Outra questão que assusta, diz, Santos, é a interferência estatal em assuntos que deveriam ser decididos pela iniciativa privada. “A tentativa de impedir que o setor privado tenha lucro. Se não há regras claras, quem vai investir e ter que devolver o que ganhou?”, questionou.

Saldo fraco Nos últimos 10 anos, apenas em 2009 — o auge da crise global —, o mercado de trabalho brasileiro havia apresentado resultado tão fraco no primeiro mês do ano. Em janeiro de 2003, foram criadas 35.485 vagas com carteira assinada, bem acima das atuais 28.900. E os números só cresceram ao longo do tempo. Mas o baixo nível de investimento e a desconfiança dos investidores nos rumos da economia brasileira foram decisivos para a perda de dinamismo, puxada pelo comércio.