Título: Governo se rende
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 23/02/2013, Economia, p. 12

Diante da pressão dos trabalhadores portuários, que entraram em greve na manhã de ontem em protesto contra a medida provisória que altera a regulamentação do setor, o governo aceitou suspender as concessões portuárias até 15 de março, uma semana antes de a MP passar a trancar a pauta de votações da Câmara dos Deputados.

O acordo foi fechado depois de um encontro entre os sindicalistas e o ministro da Secretaria dos Portos, Leônidas Cristino, no Palácio do Planalto. “Abrimos um canal de negociação desde a semana passada, e, hoje (ontem), fomos surpreendidos com essa greve em quase todos os portos brasileiros. Depois dessa reunião, entramos num acordo com todas as federações e centrais, para que a paralisação não aconteça até essa data”, disse Cristino. A greve de ontem parou, por seis horas, os embarques de soja, milho, açúcar e outras mercadorias em pelo menos 28 portos de 12 estados.

Entre as reivindicações que os portuários conseguiram emplacar, estão a suspensão das multas aplicadas contra os sindicatos por causa da greve e a participação do relator da MP — o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) — no debate travado entre o Executivo e as lideranças da categoria sobre o texto da medida. Uma nova reunião está marcada para a próxima sexta-feira, no Palácio do Planalto. “Queremos paridade na questão dos custos dos portos. Caso contrário, o terminal privado vai matar o público”, disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, na saída do encontro.

O Porto de Santos (SP), que responde por mais de um quarto das exportações e importações do Brasil, amanheceu com os guindastes e as esteiras carregadoras parados. A manifestação, que foi encerrada às 13h, como previsto, atingiu outros importantes portos do país, como de Paranaguá (PR), em um momento em que começa o escoamento da safra recorde de grãos.

“Tem uma lineup (fila programada para embarques e desembarques) de mais de 90 navios em Paranaguá e mais de 50 em Santos. Tudo isso já começa a atrapalhar sim”, reforçou o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes. Para a Força Sindical, cerca de 30 mil trabalhadores se envolveram nas manifestações que aconteceram nos vários portos do país.

Prejuízo A movimentação dos trabalhadores acendeu um sinal de alerta no mercado externo, num ano em que os problemas logísticos brasileiros têm sido fator de alta para os preços futuros dos grãos negociados na Bolsa de Chicago. Importadores mais cautelosos estão trocando a origem de alguns carregamentos de soja do Brasil para os EUA.

“A paralisação traz um prejuízo irreparável à cadeia de logística nacional”, disse o diretor do Sindicato dos Operadores Portuários de São Paulo (Sopesp), José dos Santos Martins. Segundo ele, não há como calcular os prejuízos, uma vez que as empresas não revelam dados sobre custos. A Codesp, que administra o Porto de Santos, confirmou a inviabilidade de mensurar as perdas.

Editais à vista Estimado em R$ 91 bilhões, o pacote de concessão de ferrovias do governo federal começa a sair do papel. O edital do primeiro dos 12 trechos previstos deve ser publicado na próxima semana. Nessa etapa inicial, serão 500 quilômetros de trilhos da Norte-Sul, ligando Açailândia (MA) ao porto de Vila do Conde (PA). O presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, disse que os demais editais virão na sequência. Os investidores pedem, porém, que os trechos não sejam leiloados em todos juntos, mas, sim, em blocos. Além disso, eles pedem 60 dias de prazo. “Estamos estudando como modular isso”, respondeu Figueiredo sobre o desejo dos empresários — ele sinalizou a possibilidade de que os editais sejam publicados de uma só vez, mas de que os leilões aconteçam separadamente. Está prevista, para a primeira semana de março, uma reunião entre a EPL, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e investidores em rodovias. Em seguida, será feito outro encontro, com os interessados em ferrovias, para o colhimento de sugestões para os editais.