Título: Governo evita um PIB pior
Autor: Martins , Victor
Fonte: Correio Braziliense, 26/02/2013, Economia, p. 10

Não fosse o forte aumento de gastos do governo em 2012, o desempenho da atividade econômica teria sido ainda mais decepcionante. Na próxima sexta-feira, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar o Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado, as despesas do setor público devem figurar com destaque. Segundo projeções da Fundação Getulio Vargas (FGV), será a primeira vez que o consumo governamental superará o das famílias. Esse avanço, porém, não foi impulsionado por investimentos, segmento que, provavelmente, registrou a sexta retração trimestral seguida entre outubro e dezembro últimos.

Pelos dados da FGV, enquanto os gastos públicos cresceram 3% em 2012, os das famílias avançaram 2,9%. Já a chamada formação bruta de capital fixo encolheu 1,1 ponto percentual, fazendo com que a taxa de investimento em relação ao PIB caísse de 19,3% para 18,2%. No mercado, os mais pessimistas projetam um tombo ainda maior, para aproximadamente 17%. Economistas ponderam, no entanto, que o pior momento para a atividade econômica passou. “Ainda assim, o país não conseguiu atingir um ritmo consistente de retomada nos primeiros meses de 2013”, observou Mauro Schneider, economista-chefe da corretora CGD Securities.

“A retomada do investimento está demorando mais do que se imaginava, e a nossa estimativa é de que o primeiro trimestre de 2013 não deve surpreender positivamente, como muitos esperavam. Nossos indicadores apontam no sentido de uma nova contração”, sentenciou Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro, uma pesquisa trimestral do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV. Os números indicam ainda que os esforços do governo para impulsionar a indústria nacional não surtiram efeito.

Depois de apresentar crescimento de 1,1% no terceiro trimestre, a produção industrial deve desacelerar para 0,3% no último período de 2012. Para todo o ano, a projeção é de um tombo de 0,8%. “Enquanto não tivermos uma retomada da indústria, dificilmente veremos um vigor nos investimentos do setor privado. A confiança até melhorou um pouco, mas não o suficiente”, ponderou Zeina Latif, economista e sócia da consultoria Gibraltar Consulting. Na verdade, o que se observou entre outubro e dezembro do ano passado foi uma queima de estoques, que permitiu uma leve recuperação dos ânimos no chão das fábricas.

Para 2012, tanto a FGV quanto o Itaú Unibanco estimam que o PIB brasileiro tenha crescido 0,9%. Alex Agostini, economista-chefe da gestora de risco Austin Rating, calcula que o avanço foi de 1,1%. “Para 2013, até porque o ano passado foi muito fraco, estimo um crescimento de 3,7%. Ainda é cedo para revisar esse número para baixo, temos poucos dados disponíveis”, explicou. Segundo ele, o governo tem algum fôlego para continuar a impulsionar a economia ao longo deste ano. “Há margem para cortar mais impostos e usar os bancos públicos para estimular o consumo via crédito”, disse.

Ontem, dados do boletim semanal Focus, do Banco Central, mostraram o mercado um pouco mais otimista com 2013. A projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu de 5,70% para 5,69%, a segunda queda consecutiva. Para o PIB, a estimativa saltou de 3,08% para 3,10%.

Itália puxa alta do dólar O dólar encerrou as negociações de ontem em alta frente ao real, após forte oscilação por causa das incertezas em relação aos resultados das eleições na Itália. A moeda norte-americana foi cotada a R$ 1,977 para venda, com incremento de 0,32%. Segundo os especialistas, os investidores passaram a comprar dólares após levantamentos preliminares sobre o pleito italiano indicarem a possibilidade de um parlamento dividido servir de obstáculo para reformas econômicas do país, ameaçando a estabilidade na Zona do Euro. O mercado acredita que o ideal seria o atual primeiro-ministro italiano, Mario Monti, continuar no poder.