Título: Senado vê duelo pelo Pentágono
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Fonte: Correio Braziliense, 26/02/2013, Mundo, p. 15
A batalha pela confirmação do ex-senador Chuck Hagel como novo secretário de Defesa dos Estados Unidos está perto de ser decidida, mas a provável vitória da maioria democrata no Senado dificilmente apagará as marcas deixadas por um duelo que incluiu uma obstrução por parte da oposição republicana — o indício mais claro, até agora, de que o segundo mandato do presidente Barack Obama será uma queda-de-braço entre os dois partidos. A expectativa, ontem, era de que a indicação fosse votada ainda hoje, ou no máximo até quinta-feira, e os 55 senadores governistas asseguram a maioria simples necessária. Mas o desgaste sofrido na disputa antecipa problemas à frente, quando o Pentágono terá de administrar um orçamento mais curto e concluir a retirada das tropas americanas do Afeganistão.
A obstinação dos republicanos de bater de frente com a Casa Branca, ainda que seja para enfraquecer o ex-correligionário, já atrasou a troca de comando e causou um pequeno embaraço à maior potência militar do planeta. Por conta da demora, Hagel deixou de comparecer àquele que seria seu primeiro compromisso importante: a reunião de ministros de Defesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), na última semana, em Bruxelas (Bélgica).
Desde que tomou posse pela segunda vez, Obama tem deixado evidente em seus discursos uma postura mais desafiadora à oposição no Congresso. Esta tem respondido como possível, e a obstrução de um dos nomes mais importantes da equipe — em uma área na qual há tradição de espírito bipartidário — foi uma amostra do que pode vir pela frente. Um levantamento publicado pelo jornal The New York Times apontou que, até hoje, apenas 5% de todas as nomeações de gabinetes presidenciais foram bloqueadas ou rejeitadas pelo Senado.
Os senadores que se recusaram a apoiar Hagel, um veterano da Guerra do Vietnã, questionam suas posições políticas, seu caráter e até seu patriotismo. O ex-senador se opôs à invasão do Iraque — motivo pelo qual rompeu com o Partido Republicano — e também às sanções unilaterais contra o Irã. Como se não bastasse, critica a influência de grupos pró-Israel em Washington. Um amigo de outros tempos, o senador John McCain (outro veterano do Vietnã), voltou à carga no domingo, durante entrevista à TV CNN, e disse que Hagel "não está qualificado para ser secretário de Defesa".
"Normalmente, uma oposição assim significa que o candidato terá tempos duros pela frente", observa o cientista político Steven Kyle, da Escola Dyson de Economia Aplicada e Gestão da Universidade Cornell (Nova York). "Mas os republicanos estão tão obstinados na missão de emperrar e obstruir de todas as maneiras que não dá para saber se Hagel seria (um secretário) mais forte sem essa oposição", ponderou Kyle. Essa disputada partidarizada, na avaliação do cientista político, pode ter impacto sobre vários outros assuntos na agenda do Congresso. "Os republicanos não apenas se opõem a qualquer coisa proposta por Obama, como são muito contrários a qualquer cooperação internacional."