Título: Bento XVI dá bênção final
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 25/02/2013, Mundo, p. 10
Diante de mais de 100 mil fiéis reunidos na Praça de São Pedro, para receber a bênção dominical de Angelus pela última vez em seus quase oito anos de pontificado, Bento XVI fez uma despedida emocionada e prometeu que a renúncia não significa que ele abandonará a Igreja. "O Senhor me chama a subir ao monte, a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação", disse o papa, interrompido numerosas vezes, durante a celebração, por gritos de "obrigado". "Se Deus me pede isso, é justamente para que possa continuar servindo à Igreja com a mesma dedicação e amor com que tenho feito até agora, mas de uma maneira mais adequada à minha idade e às minhas forças", concluiu o pontífice, que completa 86 anos em abril.
Bento XVI renunciará ao trono de São Pedro e deixará os aposentos papais na noite da próxima sexta-feira, para, segundo anunciou, viver em retiro. Ele viajará de helicóptero para a residência oficial de verão de Castelgandolfo, onde permanecerá por cerca de dois meses — depois, ficará hospedado em um mosteiro no próprio Vaticano. A saída do papa, anunciada no último dia 11, vem sendo cercada de especulações sobre divisões e intrigas nos bastidores da Cúria Romana, uma situação em parte confirmada pelo próprio pontífice nas declarações que fez desde então a cardeais e bispos. No sábado, o secretário de Estado da Santa Sé, cardeal Tarcisio Bertone, e o porta-voz, padre Federico Lombardi, acusaram a imprensa de difundir "boatos" e "informações falsas" com o propósito de "influir na sucessão".
Falando da sacada da Basílica de São Pedro, o papa dirigiu saudações aos fiéis em várias línguas, inclusive o português: "Queridos peregrinos de língua portuguesa que viestes rezar comigo o Ângelus: obrigado pela vossa presença e por todas as manifestações de afeto e solidariedade, em particular pelas orações com que me estais acompanhando nestes dias", pronunciou o papa. O apoio demonstrado pelos fiéis que acompanharam a bênção, aplaudindo e aclamando repetidamente o pontífice, ilustrou a reação a revelações como a de que Bento XVI teria tomado conhecimento da existência de redes e grupos organizados. Entre outras ações, eles agenciariam encontros homossexuais para hierarcas e o desvio de fundos do banco do Vaticano.
Despedida
O papa fará sua última aparição pública na quarta-feira, na audiência que concede semanalmente a um grupo seleto de convidados. Às 20h (16h em Brasília) de sexta-feira, o pontificado termina oficialmente e o Vaticano entra no período chamado de sede vacante, quando será governado interinamente pelo camerlengo — no caso, o cardeal Bertone. O sucessor será eleito em conclave pelos 118 cardeais com idade até 80 anos. Pela Constituição canônica, o encontro deveria se reunir apenas após 15 dias de sede vacante, mas Bento XVI estudava a possibilidade de alterar a norma para permitir a antecipação do conclave. Líderes da Igreja anunciaram que o novo pontífice deve ser eleito até 31 de março, o Domingo de Páscoa.
O cardeal de Aparecida (SP), dom Raymundo Damasceno, um dos cinco brasileiros que devem participar do conclave, ressaltou ontem para a imprensa a importância dos sacerdotes e religiosos latino-americanos no atual momento do catolicismo. "A Igreja na América Latina vive um momento muito especial, de entusiasmo missionário muito grande. Vai ao encontro das pessoas, nas periferias das cidades, em nossas comunidades", disse o cardeal, que deve partir hoje para Roma. Dom Raymundo, que também preside a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é um dos bispos da região citados entre os papabili — assim como o arcebispo-emérito de Brasília, dom João Braz de Avis, e o cardeal hondurenho dom Oscar Andrés Rodríguez