Título: Raúl Castro é reeleito com novo número 2
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Fonte: Correio Braziliense, 25/02/2013, Mundo, p. 11

A presença no plenário do veterano líder Fidel Castro, 86 anos, em uma rara aparição pública, não foi a única surpresa da reunião em que a Assembleia Nacional de Cuba, dominada pelo Partido Comunista, reelegeu ontem Raúl Castro para o segundo e último mandato como presidente do Conselho de Estado — na prática, chefe de Estado e de governo. A esperada confirmação de Raúl, 81, que comanda o país desde o afastamento do irmão Fidel, em 2006, foi acompanhada pela escolha de três novos vices. O “número 2” do regime, e desde já candidato à sucessão, passa a ser o engenheiro elétrico e ex-ministro da Educação Miguel Díaz-Canel, 53, um dos expoentes da geração que está sendo preparada para substituir os veteranos da revolução de 1959. Mercedes López Acea, 48, chefe do PC em Havana, e Salvador Valdés, sindicalista negro de 67 anos, são os outros “jovens” na vice-presidência do Conselho. José Ramón Machado, 82, Ramiro Valdés, 80, e Gladys Bejerano, 66, foram reeleitos e completam o colegiado de vices.

A escolha de dirigentes de meia-idade, que não lutaram na guerrilha de Serra Maestra, nos anos 1950, confirma que o presidente — também líder do partido e das Forças Armadas — dedicará o segundo período no cargo a impulsionar a “transição geracional”. No discurso, ele confirmou que este “será meu último mandato” e, como tem feito desde que assumiu o comando, insistiu na necessidade de reformas para sobrevivência do regime: “Fui eleito para defender, manter e continuar aperfeiçoando o socialismo, não para destruí-lo”. Raúl convocou os deputados a superar “a barreira do imobilismo e a mentalidade obsoleta”, para “desatar os nós que detêm o desenvolvimento das forças produtivas”. Ainda no ano passado, o Congresso do Partido Comunista aprovou um conjunto de medidas que mexe com pilares do sistema revolucionário, como o subsídio universal aos preços de alimentos, simbolizado na caderneta de racionamento. A política de diferenças salariais mínimas foi substituída pela premiação do trabalho especializado, combinada com o auxílio direto às famílias de renda mais baixa. Essas reformas, afirmou o presidente reeleito, visam a transformar Cuba em “uma sociedade menos igualitária, porém mais justa”.

A promoção de Díaz-Canel, apontado como artífice da “atualização do socialismo”, representaria “um passo definitivo na configuração da futura direção do país”, segundo Raúl, que passará o poder a um sucessor em fevereiro de 2018. Foi o próprio presidente quem promoveu a limitação do período em cargos de direção do Estado e do PC a dois mandatos de cinco anos.

A Assembleia Nacional elegeu 17 novatos entre os 31 membros do Conselho de Estado. Entre as mudanças mais relevantes está a saída de Esteban Lazo, 68, que assume a presidência do parlamento no lugar de Ricardo Alarcón, 75. Acadêmico e ex-chanceler, ele presidiu a Assembleia por 20 anos, mas não se reelegeu deputado. As mudanças no Legislativo e no Conselho de Estado coincidem com um momento de incerteza econômica, decorrente da difícil situação de saúde do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Cuba depende do estratégico fornecimento de petróleo venezuelano com preços e condições de pagamento facilitados. A ilha sente igualmente o impacto do bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos desde 1962, o que dificulta e encarece a importação de gêneros de primeira necessidade, entre eles medicamentos.

Orla do Rio encanta Yoani

Atenta pela internet à reeleição de Raúl Castro, a blogueira dissidente Yoani Sánchez aproveitou o domingo para percorrer as praias da Zona Sul do Rio de Janeiro, ciceroneada pelo deputado Otávio Leite (PSDB). Comentando a escolha do novo “número dois” do regime, Yoani disse que pouco mudará em seu país: “É mais fácil termos uma surpresa aqui na praia do que em Havana”, disse em Copacabana. A blogueira deixa hoje o Brasil com destino à República Tcheca.