Título: A cidade da soja e do milho
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2013, Economia, p. 10

Quando chegou a Rio Verde (GO) para cursar a faculdade de administração em 1972, Evaristo Lira Baraúna era servidor da extinta Companhia Brasileira de Armazenamento (Cibrazem). Até então, ele nunca tinha visto ou tocado em um grão de soja. As principais lavouras da região que ocupavam os depósitos do governo quando colhidas eram de milho e arroz. Após cinco anos na cidade, o recém formado administrador deixou o serviço público para assumir o cargo de diretor comercial de uma cooperativa de produtores do município.

A experiência adquirida em sala de aula, somada aos anos de trabalho no governo e à lida diária com a compra e venda de grãos encorajou Baraúna a montar o próprio negócio em 1980. Ele percebeu que, com a falta de armazéns e silos no município, era possível conciliar a representação de empresas que vendiam sacos com a corretagem do milho e do arroz. Nascia assim o grupo Cereal, que após um ano em atividade, construiu o primeiro depósito em Rio Verde.

"O contato inicial com a soja aconteceu em 1985", relembra o empresário de 62 anos que comanda uma agroindústria com 520 empregados e faturamento anual de R$ 550 milhões. Com 12 armazéns espalhados pelo sudoeste goiano, com capacidade para estocar 220 mil toneladas de grãos, fábricas de ração, de farelo e esmagadora que processa 1,2 mil toneladas de soja por dia, o Grupo Cereal acompanha e ilustra a pujança das lavouras e das indústrias de Rio Verde. Além de atender o mercado interno, parte do óleo bruto da soja, do farelo e dos grãos de milho, de soja e de sorgo são exportados para Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Irã e Arábia Saudita.

Indústrias

"Vamos investir mais R$ 60 milhões para ampliar e modernizar a rede de armazéns, além de duplicar a capacidade de esmagamento de soja e ampliar a fábrica de ração", diz Baraúna. A riqueza que brota das terras planas de Rio Verde levou o município a um PIB agrícola de R$ 547 milhões, o quinto maior do país. Hoje é um dos mais importantes polos produtor de grãos. Somente em 2013, cerca de 400 mil hectares devem ser plantados na região. Essa fartura também atraiu para a cidade as principais compradoras e processadoras de commodities do mundo e permitiu o avanço de políticas sociais que benefiaram a população como um todo. O PIB per capita da cidade em 2010 foi R$ 23,5 mil, o quarto maior do estado, e acima do atingido pelo Brasil no mesmo período: R$ 20,8 mil.

Apesar do momento econômico favorável para produção de grãos com os preços das commodities em alta, Baraúna reclama que alguns entraves impedem o desenvolvimento da atividade rural em Rio Verde. Ele enumera como principais gargalos para impulsionar o agronegócio no município a falta de mão de obra qualificada, as constantes interrupções no fornecimento de energia, a inexistência de ferrovias para escoamento de safra e as deficiências na infraestrutura dos portos brasileiros. "Tenho geradores movidos a diesel na indústria, tudo é transportado por caminhões próprios e, quando chegam aos portos, falta agilidade para embarcar as mercadorias", lamenta.

Entre as companhias interessadas em adquirir a soja, o milho e o sorgo plantado no município goiano estão Cargil, Caramuru e Louis Dreyfus. Outra gigante mundial do agronegócio, a BRF também possui uma fábrica na região. Os aumentos anuais de produtividade das lavouras de Rio Verde, que chegaram ao índice médio de 60 sacas de soja e 110 de milho por hectare, conquistados com um robusto investimento em tecnologia e pesquisa, possibilitaram que simples agricultores se tornassem grandes produtores rurais.