Título: Progresso não chega para todos
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2013, Economia, p. 10

A escassez de terras para plantio no Rio Grande do Sul levou João Luiz Giraldi, 51 anos, a migrar de Passo Fundo para Rio Verde (GO), no início da década de 1980. Na época, a notícia de que no sudoeste goiano havia fartura de áreas disponíveis, com preços baixos, atraiu vários sulistas. O primeiro desafio do agricultor gaúcho foi transformar a terra pobre em nutrientes em área fértil para o plantio. Com técnicas de correção e mapeamento de solo, ele colherá mil hectares de soja e espera atingir uma produtividade de 65 sacas por hectare. "Nossa principal dificuldade é encontrar mão de obra capacitada para operar as máquinas cada vez mais modernas", lamenta.

Como não possui armazém, Giraldi vende parte da produção para a Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo). A Comigo fabrica rações, sabão, fertilizantes, farelo de soja e milho, óleo de soja, leite longa vida e derivados, sal mineralizado e também beneficia sementes. Além da atividade industrial , os 13 armazéns e outras 13 lojas agropecuárias espalhadas por Goiás ajudaram a cooperativa a faturar R$ 2,18 bilhões em 2012. Com 5,6 mil cooperados e até 2,5 mil empregados em períodos de safra, traçou um ambicioso plano de investimentos de R$ 300 milhões entre 2011 e 2013 para ampliar a capacidade de produção e armazenagem.

Na avaliação do presidente da Comigo, Antonio Chavaglia, enquanto os industriais e os produtores da região investem pesado para modernizar e ampliar as lavouras e a capacidade de produção, o governo fecha os olhos para demandas latentes. Ele diz que a falta de oferta de seguros rurais deixam todo o risco de perda no colo dos agricultores.

Todo o dinheiro do agronegócio que circula pelo município fortaleceu o comércio. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que o produto interno bruto (PIB) de Rio Verde atingiu em 2010 o montante de R$ 4,1 bilhões. Em um simples passeio pela avenida Presidente Vargas, pista que corta a cidade, é possível encontrar pelo menos 17 concessionárias de veículos e de maquinário agrícola, representantes de marcas de sementes e insumos, cooperativas de crédito, agências de todos os grandes bancos e lojas de materiais básicos para o trabalho no campo e de roupas. Além do shopping que existe na cidade, um novo centro comercial será construído às margens da BR-060.

Mas, apesar do desenvolvimento, alguns bairros da cidade ainda têm sérios problemas. É o caso de Laranjeiras, localidade escolhida pelo comerciante gaúcho Ivone Bertoni Machado, 53 anos, para montar um mercado. "Minha rua não tem asfalto. Também não temos rede de esgoto e às vezes algumas fossas vazam. O mau cheiro é grande e isso atrapalha o crescimento no negócio", ressalta. Moradora do bairro Liberdade, Divina Lúcia Garcia do Carmo, 34 anos, reclama da violência que chegou à cidade com o tráfico de drogas. Desempregada, ela diz que pelo menos quatro pessoas morreram na área logo no início do ano.

R$ 764,4 milhões Em 2010, foram plantados em Rio Verde 128,5 mil hectares de milho e 265 mil hectares de soja. Estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat[istica (IBGE) indicam que naquele ano as duas culturas movimentaram R$ 488,5 milhões. Já em 2011, a louvara de milho foi estendida para 128,5 mil hectares e a de soja permaneceu em 265 mil hectares. Mesmo com o acréscimo tímido da área plantada, a movimentação financeira chegou a R$ 764,4 milhões, aumento de 56,8%.