Título: Câncer mata cada vez menos no DF
Autor: Sakkis, Ariadne
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2013, Cidades, p. 23

Apesar da primeira redução na quantidade de óbitos por causa da doença em oito anos, continua preocupante a incidência de casos no aparelho respiratório e nas mamas. Segundo especialistas, o tabagismo está relacionado a 30% de todos os tumores

O ano de 2012 foi o primeiro, em oito anos, a registrar redução no número de mortes por câncer no Distrito Federal. Dados da Secretaria de Saúde mostram que, no ano passado, a doença matou 2.101 pessoas, 32 a menos do que em 2011. Apesar da melhora no panorama, as variáveis mais letais — no pulmão e na mama — continuam em uma crescente agressiva. O ataque ao aparelho respiratório matou 256 pessoas, e aos seios, 179.

As razões para o desenvolvimento dessas enfermidades variam de organismo, mas se estima que o tabagismo seja a principal causa de 80% dos diagnósticos de câncer. Apesar de o DF ter conseguido diminuir a parcela fumante da população — são 17% dos habitantes contra 35%, em 1999 — a incidência vista hoje é consequência do vício. "Hoje, estamos colhendo os resultados de longos anos de tabagismo. Normalmente, é um câncer detectado em estágio avançado, com poucas chances de cura", explica a chefe da Gerência de Câncer da Secretaria de Saúde, Cristina Scandiuzzi.

Mesmo sem jamais ter fumado um cigarro, Maria Amélia Silveira, 62 anos, recebeu diagnóstico positivo para a doença há dois anos. Era por isso que ela tossia insistentemente. "Fui pega de surpresa, mas logo corri para fazer a quimioterapia. Eu estava confiante, só que preocupada. Hoje, estou praticamente curada", conta a moradora da Octogonal.

Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), o cigarro está relacionado a 30% de todos os tumores. Inclusive o câncer de mama, tipo mais recorrente e também mais perigoso para as mulheres. Para se ter uma noção, a modalidade corresponde a 17% das mortes entre pacientes do sexo feminino. No entendimento de especialistas, a persistência da alta taxa de mortalidade do câncer de mama reflete tanto um aspecto socioeducacional como em falhas no acesso aos serviços de saúde.

"Ainda vemos muitas pacientes com quadros avançados que poderiam ter sido diagnosticados mais cedo e contribuído para as chances de cura. Isso acontece por falta de informação e também pela precária estrutura da saúde, principalmente na rede pública", avalia o oncologista Murilo Buzo, do Centro de Câncer de Brasília. Aliás, muitos especialistas acreditam que as dificuldades enfrentadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) contribuem para elevar o número de óbitos.

"Cerca de 60% dos casos detectados em hospitais públicos estão em estágios avançados. Pacientes cuidados na rede particular, por terem acesso mais rápido a exames e a tratamentos, têm mais chances de cura", acredita Anderson Silvestrini, presidente da SBOC. Entretanto, houve redução, de quase 25%, na mortalidade entre pessoas com câncer de próstata. Foram 123 casos em 2012 contra 163 no ano anterior. "Isso pode sinalizar que houve avanços na detecção e na orientação do paciente", avalia Silvestrini.

Diagnóstico A Gerência de Câncer do DF reconhece que há muito trabalho a ser feito até que a assistência governamental ofereça cobertura ampla às mulheres com maiores chances de desenvolver a doença. Por isso, há o desenvolvimento de ações como a Carreta da Mulher, um laboratório móvel que circula pelo DF oferecendo testes gratuitos de mamografia.

Em breve, será lançado um programa que priorizará mulheres com mais de 50 anos em postos de saúde. Estatisticamente, o maior número de diagnósticos positivos se concentram nessa faixa etária, apesar de o Ministério da Saúde recomendar pelo menos uma mamografia anual a partir dos 40 anos. "Ainda temos um desempenho tímido nesse aspecto. Precisamos trabalhar para chegar a oferecer os exames preventivos a, pelo menos, 70% do público em risco. Assim, podemos conseguir uma redução de até 30% nas mortes", afirma Cristina.

Mas a história de Luciana Cruz é um alerta sobre a importância de se cuidar desde cedo. Aos 27 anos, a empresária, moradora da Asa Sul, venceu a segunda batalha em uma luta travada contra o câncer de mama há oito anos. Quase cinco anos depois da cura em um dos seios, ela pensava estar livre da doença quando soube que outros três nódulos apareceram na mesma mama operada e na axila. "Irrita o fato de só recomendarem os exames para mulheres mais velhas, porque, graças à tecnologia, consegui descobrir os tumores e me curar. Tive de fazer a mastectomia radical, em que você tira músculos e todo o tecido. Claro que mexe com a cabeça da gente, mas a vida vale muito mais", diz.

Hoje, ela está na fase hormonioterapia para inibir a produção de progesterona e de estrogênio, diminuindo, assim, as chances de desenvolver novos nódulos. Na prática, isso significa que Luciana está na menopausa, aos 27 anos. Com astral invejável, ela brinca: "Sou uma senhora de 70 anos em um corpinho de 20. Mas a vida da gente é feita de estações. Tenho certeza de que há muitas floridas pela frente", ensina.