O globo, n. 31818, 17/09/2020. Rio, p. 15

 

Castro sob ataque

André Coelho

Vera Araújo

17/09/2020

 

 

Delator acusa governador em exercício de ter recebido propina de R$ 100 mil

 Um dos alvos da Operação Catarata, que, na semana passada, revelou indícios de desvios de recursos destinados a programas sociais do estado e da prefeitura, o empresário Bruno Campos Selem afirmou que o governador em exercício Cláudio Castro recebeu mais de R$ 100 mil em propina do empresário Flávio Chadud, dono da ServLog, empresa apontada como uma das principais beneficiadas no suposto esquema de corrupção. A acusação faz parte de um acordo de delação premiada que foi homologado pelo Tribunal de Justiça do Rio.

Imagens de câmeras de segurança obtidas pelo canal Globonewsequef azem parte da investigação mostram Castro e Chadud chegando juntos à sede da ServLog, num shopping da Barra, na manhã de 29 de julho de 2019. Era a véspera da primeira e tapada Operação Catarata, que resultou na prisão do empresário e de Selem. Agravação mostra o então vice-governador entrando às 9 h 26n um elevador comodo noda empresa, que tinha contratos milionários coma Fundação Leão XIII, órgão época, à vice-governadoria doestado.

Selem calcula que Castro tenha recebido cerca de R$ 100 mil em espécie, val orque faltava no cofre da empresa após a reunião. O delator afirmou que, antes do encontro, havia R$ 300 mil no cofre; depois, ele verificou que restavam R$ 170 mil. Selem diz não ter visto a suposta entrega do dinheiro, mas afirmou ter a certeza de que ela aconteceu porque, na mesma manhã, Chadud lhe perguntou qual foi o valor total pago pela Fundação Leão XIII à ServLog, para calculara propina. Até aquele dia, tinham sido pagos quase R$ 900 mil. Segundo o delator, o próprio Chadud contou no dia seguinte, quando estavam numa mesma cela, que o pagamentoa Castro havia sido feito na véspera.

Um relatório da Polícia Civil sobre as imagens aponta que é possível confirmar que Selem estava na sede da ServLog, chegando seis minutos após Chadud e Castro, que deixaram o prédio cerca de uma hora depois. A saída do então vice-governador foi registrada às 10h33, quando ele foi filmado saindo do elevador com uma mochila e cumprimenta discretamente Chadud.

RELAÇÃO DE ALGUNS ANOS

Selem, de acordo comoera o braço direito de Chadu de acompanhava todo o suposto esquema de pagamentos de propina. Selem contou em sua delação premiada que a relação entre o empresário e o hoje governador em exercício começou na época em que Castro era vereador, entre 2017 e 2019. Segundo Selem, Castro teria recebido propina do projeto Qualimóvel, executado pela mesma ServLog para a Subsecretaria municipal da Pessoa com Deficiência.

Ainda de acordo com Selem, por já ter se beneficiado do esquema, Castro colocou a Fundação Leão XII, que mantinha contratos coma ServLog, sob sua responsabilidade no governo do estado, lgo no início de 2019. O objetivo seria possibilitar desvios do projeto Novo Olhar, que prestava atendimento oftalmológico.

Chadud foi preso novamente na sexta-feira passada, durante a Operação Catarata 2, com o então secretário estadual de Educação Pedro Fernandes e a ex-deputada federal Cristiane Brasil. Fotos incluídas no inquérito mostram proximidade de Castro com os envolvidos. O vice-governador, no entanto, não foi incluído na investigação que deu origem à operação. Por causa do cargo que ocupa desde o afastamento do governador Wilson Witzel, ele tem foro privilegiado, e só pode ser alvo de um eventual inquérito aberto no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O governador em exercício afirmou, em nota, que“a especulação do delator sobre recebimento de prop in aé mentirosa ”, eque nunca encontrou Selem na sede da ServLog. Castro também afirmou que, apesar de conhecer Chadud, determinou um corte de R$ 7 milhões nos contratos da Leão XII coma empresa.

A defesa de Cristiane Brasil diz que a denúncia não tem fundamento e se trata de uma tentativa de perseguição política. O advogado de Pedro Fernandes afirmou que não existem razões jurídicas para sua prisão eque as acusações se baseiam em narrativas vagas de delatores. Em nota, a defesa de Flávio Chadud negou seu envolvimento em irregularidades e acusou Selem de mentir para se beneficiar.

EXONERAÇÃO DE FERNANDES

Somente ontem Castro exonerou Fernandes do cargo de secretário de Educação. A decisão, publicada no Diário Oficial, foi tomada um dia após a defesa do acusado conseguir a transferência do inquérito da primeira instância do Tribunal de Justiça do Rio para o Órgão Especial da instituição. A decisão do desembargador Marco Antônio Ibrahim considerou que Fernandes tem direito a foro especial porque era secretário do estado no momento da prisão. Castro havia afastado Fernandes do governo por 15 dias.

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Um só problema, dois pedidos de impeachment

17/09/2020

 

 

Destino de processos que podem definir futuro dos governos estadual e municipal será decidido hoje na Alerj e na Câmara de Vereadores

 Com duas frentes de investigação de corrupção nos governos municipal e estadual, o Rio terá hoje um Dia D no andamento de pedidos de impeachment contra o governador afastado Wilson Witzel e contra o prefeito Marcelo Crivella.

Logo pela manhã, a Comissão de Impeachment da Assembleia Legislativa se reúne, às 11h, para deliberar sobre o parecer do relator, Rodrigo Bacellar (SDD) sobra a situação de Witzel, que já está afastado do cargo por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ ). O caso, no âmbito legislativo, está a goranas mãos dos deputados. O texto de de acordo coma colunista Berenice Seara do Extra, vai concordar com o pedido de afastamento de Witzel por 180 diasco ma aberturado processo de impedimento. Por ter foro privilegiado, o governador afastado, citado em fraudes em compras emergenciais para o combate ao coronavírus, já é investigado pelo STJ.

Basta a maioria simples dos deputados (13 dos 25 membros da comissão) dizer sim para o parecer de Bacellar ser aprovado. Na semana que vem, o relatório segue para a análise e votação de todos os membros da Casa, em plenário. Lá precisa receber dois terços dos votos de todos os deputados (47) para ser aprovado.

Enquanto isso, atardes erá dedicada a um novo pedido de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella, que pela quinta vez passará pelo crivo dos vereadores. Nos pedidos anteriores, por ter maioria, o prefeito conseguiu escapar de um processo que poderia afastá-lodo cargo. A partir das 16h, os 51 vereadores da Câmara do Rio votam um novo requerimento, protocolado pelo PSOL. A medida foi motivada pela operação do Ministério Público estadual para desbaratar o que os promotores chamam de “QG da Propina” na prefeitura. Na semana passada, foram cumpridos 22 mandados de busca e apreensão, até mesmo na casa de Crivella, que teve o celular apreendido. As investigações indicam que empresas eram beneficiadas em troca de propina distribuída a integrantes do governo.

A sorte de Crivella será decidida por maioria simples. Se for aprovada a abertura do processo de impeachment, a comissão processante será sorteada na própria sessão.