O globo, n. 31815, 14/09/2020. País, p. 6

 

Após alianças desfeitas e novos apoios, Rio já tem 13 candidatos a prefeito

Bernardo Mello

14/09/2020

 

 

Crivella e Paes reúnem o maior número de siglas nas coligações; esquerda teve divergência no PSOL e rompimento de PDT e Rede

 A menos de uma semana do fim do prazo das convenções partidárias, 13 candidatos já foram lançados à prefeitura do Rio, em meio a alianças formadas e desfeitas de última hora. Por motivos variados, quatro précandidatos que haviam sido apresentados em seus partidos no último mês desistiram de disputar esta eleição. O bloco de esquerda também sofreu novo revés, com o fim da aliança entre o PDT e a Rede. Ambos agora tentam o apoio do PSB, que integrava o grupo desfeito. Também houve divergências internas no PSOL durante o fim de semana.

Atingidos por denúncias na semana passada, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), apoiado por sete partidos, e seu antecessor, Eduardo Paes (DEM), com seis siglas na coligações, reúnem o maior número de apoios numa eleição que terá várias candidaturas “puro sangue”.

O PSL foi um dos partidos que passaram por mudanças repentinas nos últimos dias. A legenda confirmou no sábado o deputado federal e ex-nadador Luiz Lima à prefeitura, substituindo o então pré-candidato Rodrigo Amorim. A decisão de lançar Lima foi uma reviravolta no partido, que também havia acenado com apoios a Crivella e a Paes, mas optou pela candidatura própria após ambos serem alvos de operações. Lima, no entanto, já foi avisado pelo senador Flávio Bolsonaro que não poderá usar o nome do presidente Jair Bolsonaro na campanha.

Sem o PSL, Crivella segue com Patriota, Progressista, PMN, Solidariedade, Podemos, PTC e PRTB, enquanto Paes mantém em sua aliança PL, PSDB, Cidadania, PV, DC e Avante. Além de Amorim, também retiraram suas pré-candidaturas Cabo Daciolo (PL), Marcelo Calero (Cidadania) e Paulo Marinho (PSDB), após seus partidos optarem pelo apoio a Paes.

O PSL articulou até a última sexta-feira um apoio à candidatura de Crivella, que desejava ter um vice do PSL. O prefeito recebeu uma lista de quatro nomes do partido para escolha. As conversas, no entanto, se encerraram depois que o Republicanos não aceitou apoiar a candidatura do delegado Fernando Francischini (PSL) à prefeitura de Curitiba, condição que havia sido posta pela direção nacional do PSL.

Luiz Lima, o candidato no Rio, tem diálogo coma chamada“ala biva ri sta” do partido, alinhada ao presidente da legenda, Luciano Bivar, e também com integrantes mais próximos ao presidente Jair Bolsonaro, que vem oferecendo um apoio velado a Crivella. O Republicanos também conseguiu afiliação do vereador Carlos Bolsonaro, candidato a novo mandato.

— Em relação ao apoio da família Bolsonaro, tenho certeza que despertei a confiança não só da família, mas dos 115 mile leitores que votaram e mm impara deputado federal. Nunca pedia nenhum adversário nos meus tempos de natação para não competir, então ninguém pode tirar meu direito de competir também. Quero conquistar o eleitor carioca, não só o eleitor de direita — afirmou Lima.

FREIXO DESISTE OUTRA VEZ

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), que havia desistido em maio de ser candidato à prefeitura do Rio, chegou a avaliar nos últimos dias voltar à disputa eleitoral após as operações do Ministério Público contra Eduardo Paes e Marcelo Crivella. No último sábado, porém, ele confirmou que não voltará ao páreo, mesmo após um abaixo-assinado feito por membros da classe artística pedir que reconsiderasse a decisão. A intenção de Freixo esbarrou em divergências no próprio PSOL, que anunciou a candidatura de Renata Souza em convenção municipal.

Deputados, vereadores e apoiadores do PSOL se opuseram à ideia, em defesa da candidata já anunciada. Uma das críticas era que trocar o nome já lançado seria incoerente com a defesa pelo PSOL de dar maior representatividade a mulheres e negros na política. Em maio, quando anunciou que não concorreria, Freixo apontou a dificuldade de construir uma frente unificada de partidos de esquerda era o principal motivo de sua decisão.

Confirmada no sábado como candidata do PDT à prefeitura, a deputada estadual Martha Rocha afirmou que não haveria chance de retirar seu nome da disputa mesmo se Freixo voltasse a concorrer. A mesma avaliação foi feita em caráter reservado por dirigentes do PT ao GLOBO.

—O Freixo precisava resolver internamente no PSOL essa questão antes de pedir publicamente a união das esquerdas —disse Martha.

FRENTE DESFEITA

O lançamento da candidatura de Martha Rocha durante o fim de semana pelo PDT incomodou a Rede, que desfez a aliança eleitoral com o partido no Rio. Há três meses, PDT e Rede haviam lançado uma frente de centro-esquerda junto com o PSB, com o acordo de que formariam uma chapa unindo a deputada estadual e ex-chefe da Polícia Civil Martha Rocha e o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello (Rede). Em nota, a Rede informou que a decisão do PDT foi tomada “antes de encerrar a pesquisa encomendada pela frente Rede-PDTPSB para definir quem seria o candidato em melhores condições”, entre Martha e Bandeira de Mello.

Bandeira conversou nas últimas semanas com aliados de Eduardo Paes (DEM), mas ainda deseja ser candidato pela Rede ou compor uma chapa com o PSB. Como a chapa de Eduardo Paes já tem vice definido — Nilton Caldeira, do PL, um dos fundadores do partido, anunciado na última quarta-feira —, a sondagem feita entre interlocutores de Bandeira e do ex-prefeito não avançou.

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Eleição em SP aguarda pela definição de Russomanno

Guilherme Caetano

14/09/2020

 

 

Ex-apresentador, líder de campanhas de 2012 e 2016, deve ser confirmado pelo Republicanos e embolar o campo da direita

 Na reta final do período de convenções partidárias, a disputa pela prefeitura de São Paulo aguarda por uma definição que pode mudar o cenário eleitoral. Doze candidatos já foram oficializados, mas há incertezas sobre a candidatura de Celso Russomanno (Republicanos), bem colocado nas pesquisas e que tem articulado para ter apoio do presidente Jair Bolsonaro no pleito.

Se Russomanno for confirmado e tiver endosso presidencial, ele pode se tornar o fiel da balança e arrebatar votos do eleitorado órfão do Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tentou erguer ao se desfiliar do PSL.

O pré-candidato do Republicanos, cuja convenção ocorre na quarta-feira, último dia permitido, esteve três vezes com Bolsonaro neste mês. O partido é ligado à Igreja Universal e abriga dois dos filhos do presidente, Flávio e Carlos.

Ex-apresentador de TV e especializado em direito do consumidor, Celso Russomanno disputou a prefeitura outras duas vezes pelo mesmo partido, em 2012 e 2016. Em ambas as ocasiões ele largou em primeiro lugar nas pesquisas e desidratou ao longo das disputas, ficando de fora do segundo turno. Esse histórico pode pesar contra sua candidatura desta vez, e levar sua sigla a apoiar outro candidato.

VOTO CONSERVADOR

Diversos postulantes da direita brigam pelo voto conservador, especialmente em razão do fato de Jair Bolsonaro ter deixado clara sua intenção de não apoiar ninguém nas eleições, pelo menos no primeiro turno.

Na lista de candidatos que tentam abocanhar esse eleitorado constam Levy Fidelix (PRTB), Filipe Sabará (Novo), Andrea Matarazzo (PSD), Joice Hasselmann (PSL) e Arthur do Val (Patriota). Até Márcio França (PSB), do campo da esquerda, aposta no voto bolsonarista ao se posicionar contra o governador João Doria (PSDB), rompido com o presidente.

Joice e Do Val, no entanto, enfrentam resistência dos apoiadores de Bolsonaro por terem feito críticas ao presidente no último ano. Os dois devem levantar a bandeira do “lavajatismo” para focar no voto dos “bolsonaristas arrependidos”.

Mais ao centro, o prefeito Bruno Covas (PSDB) montou uma aliança com dez partidos (PSDB, DEM, MDB, PP, PL, PSC, PROS, PV, Podemos e Cidadania). A coalizão pretende ser um teste de uma frente ampla que uniria as três maiores siglas (PSDB, DEM e MDB) para as eleições de 2022.

Por pouco Covas não teve o apoio da ex-prefeita Marta Suplicy. Ontem, seu partido, o Solidariedade (SD), decidiu apoiar Márcio França, contrariando o desejo de Marta por apoiar o PSDB. Ela se desligou do SD horas depois da convenção.

No campo da esquerda, a situação é inédita. Desde 1985 o PT não entra numa eleição paulistana tão fragilizado como agora. O maior receio levantado por petistas é ficar atrás de Guilherme Boulos (PSOL), o que significaria perda de hegemonia no campo da esquerda em São Paulo.

Além de ter se saído bem em pesquisas eleitorais recentes, Boulos tem recebido apoio de personalidades historicamente ligadas ao PT, como o religioso Frei Betto, o cientista político André Singer, ex-porta-voz da Presidência da República no governo Lula, e o ex-ministro Celso Amorim.

Sem o aliado histórico PCdoB, que lançou Orlando Silva, o PT ainda não definiu o vice de Jilmar Tatto. O PSB, por sua vez, enfrenta críticas internas e do aliado de chapa, o PDT, por causa dos constantes acenos de Márcio França a Jair Bolsonaro. Ambas as legendas são oposição do governo federal na Câmara.

Os partidos têm até quartafeira para fazer suas convenções. Além do Republicanos, a Rede deve oficializar a candidatura da deputada estadual Marina Helou, enquanto o PCB deve lançar o nome de Antonio Carloz Mazzeo, e a UP, o de Vivian Mendes.