Título: Dilma afaga o PMDB e mina PSB
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 01/03/2013, Política, p. 4

No dia mais agudo da disputa pelas candidaturas governistas à Presidência em 2014, o PT promoveu um seminário em Fortaleza para exaltar as realizações da legenda na área social, a presidente Dilma Rousseff recebeu em Brasília os novos líderes do PMDB no Congresso, e o governador Eduardo Campos prosseguiu com as reuniões em Recife para avaliar as declarações do ex-deputado Ciro Gomes (CE). A bolsa de especulações explodiu a dois dias da convenção nacional do PMDB, marcada para sábado, em Brasília.

Os petistas escolheram a capital cearense para a segunda rodada de seminários do partido — o tema de ontem foram as políticas de bem-estar social, direitos humanos e inclusão social — justamente para fincar uma bandeira na área de influência do PSB de Eduardo Campos. E contaram com a ajuda dos irmãos Ciro e Cid Gomes (governador do Ceará), que reafirmaram o apoio à reeleição de Dilma no ano que vem. Ciro disse, no domingo, que Eduardo “não tem estrada ou visão de país” para ser candidato a presidente. Cid, por sua vez, disse ontem à plateia petista em Fortaleza que, “ao longo dos 16 anos em que exerci cargos executivos, estive ao lado do PT e o PT esteve ao meu lado”.

Lula e o PT insuflam o discurso dos Gomes para tentar adiar ao máximo a decisão de Eduardo Campos de candidatar-se ao Planalto. Dilma recebeu Cid, na terça-feira. Lula visitará obras do governador em Redenção, no interior cearense, ao lado do governador. Na segunda-feira à noite, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), jantou com Campos. Na ocasião, reforçou a importância de o PSB permanecer na base aliada para reeleger Dilma.

O petista acha que o governador pernambucano pode ser um bom nome para 2018. Mas negou que tenha sido porta-voz de qualquer pedido do ex-presidente Lula para que o socialista seja vice de Dilma no lugar do peemedebista Michel Temer. “Apesar do rompimento entre o PT e o PMDB na Bahia, eu apoio a chapa Dilma-Temer”, reforçou ele.

Ontem, em uma conversa que durou aproximadamente 10 minutos, Wagner confirmou a Temer que sua função tem sido a de colocar panos quentes na relação entre o Palácio do Planalto e o governador pernambucano.

Campos assegurou a Wagner “que ainda não tomou nenhuma decisão em relação à candidatura presidencial”. Mas, no jogo de luz e sombra em que se transformou esse debate, Eduardo Campos convocou para a capital pernambucana toda a cúpula do PSB. Ele não gostou nada das palavras de Ciro. Embora, dentro do partido, os irmãos Gomes sejam considerados vozes isoladas — até mesmo setores do PSB cearense sentem-se incomodados com os arroubos verbais do ex-ministro Ciro Gomes —, o governador de Pernambuco não escondeu a irritação com a situação. Os aliados acham que Ciro foi “extremamente desrespeitoso nas palavras ditas sobre Eduardo”.

Em Brasília, Dilma deu ontem a segunda das três demonstrações de boa vontade com o PMDB nesta semana. Na noite de quarta-feira, foi a convidada especial do jantar que o vice-presidente Michel Temer promoveu em homenagem ao ex-presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Não discursou, mas sua presença foi vista como um sinal de apreço a Sarney e os correligionários dele.

Ontem, recebeu, ciceroneada por Temer, os líderes do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), e na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Este último é visto com cautela pelo Planalto, mas o primeiro contato foi ameno. Mais uma vez, Dilma não mencionou a parceria no ano que vem. Terá mais uma chance na convenção nacional peemedebista, marcada para sábado. Nada que altere o ânimo do PMDB. “Ela foi nos três eventos, um gesto de apreço. Meu pai dizia que palavras podem mentir, movimentos não”, filosofou Eunício.

“Ela (Dilma) foi nos três eventos (do PMDB), um gesto de apreço. Meu pai dizia que palavras podem mentir, movimentos não” Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB no Senado