Valor econômico, v. 21, n. 5112, 22/10/2020. Brasil, p. A4

 

Extração sustentável é saída para Amazônia, diz Mourão

Gabriel Vasconcelos

22/10/2020

 

 

Para vice, aposta em insumos para a indústria farmacêutica, de cosméticos e alimentos vai melhorar vida na região

O vice-presidente Hamilton Mourão disse que o governo busca, por meio do Conselho da Amazônia Legal, por ele chefiado, atrair investidores que coloquem recursos na Amazônia para extração de insumos baseados em biodiversidade. O Planalto também deseja que empresas instalem indústrias nas grandes cidades da região.

A afirmação foi feita ontem, em evento on-line sobre desenvolvimento sustentável da Amazônia organizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Participaram o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.

Mourão dividiu a Amazônia em duas áreas, uma “já antropizada”, onde prevaleceriam fazendas de gado, e outra mais virgem que definiu como “Amazônia profunda”, a ser preservada tal como está hoje. “A imensa maioria das fazendas não tem o título de terra e precisa disso para ter acesso a crédito e aumentar sua produtividade dentro das regras ambientais.”

Sobre a segunda área, de mata virgem, Mourão disse que a chave para a preservação é a exploração da biodiversidade, com a extração sustentável de insumos. “Investimentos na extração de insumos para a indústria farmacêutica, de cosméticos e alimentos é o que vai melhorar a vida na Amazônia profunda. Isso requer infraestrutura logística, portos e aeroportos.”

Segundo ele, é imprescindível que o trabalhador que vai atuar na extração de matérias-primas, na ponta da cadeia, tenha acesso a “pequenos portos bem construídos, onde coloque sua produção e receba a remuneração”.

Outra diretriz do Conselho da Amazônia Legal para a elegibilidade de investidores é que fixem suas plantas nas grandes cidades amazônicas, a fim de gerar empregos de melhor qualidade. “Não adianta pegar insumo na Amazônia e vir produzir aqui no centro-sul. Queremos gerar bons empregos lá.”

Montezano reiterou a tese do governo de que há “desinformação" sobre a situação da Amazônia no país e, principalmente, fora dele. Na mesma linha, Damares Alves disse que, em eventos internacionais, já foi interpelada por estrangeiros sobre o porquê de o governo brasileiro não remover toda a população amazônica da região em nome da preservação ambiental. “Tem gente fora do Brasil que acha que temos de tirar eles de lá. A ideia não é levar metrô ou prédios para lá, mas o povo da Amazônia tem direito a dignidade.”

Ao longo do evento, desmatamento queimadas, em números recordes desde o início do governo Jair Bolsonaro, foram pouco mencionados. O vice-presidente Mourão garantiu ações de combate ao desmate e disse que o governo trabalha na reabilitação das agências civis de fiscalização do meio ambiente sob o comando do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, até para diminuir os esforços das Forças Armadas na região.