Valor econômico, v. 21, n. 5110, 20/10/2020. Política, p. A10

 

Rodrigues vai alegar que agiu “por um impulso”

Renan Truffi

Vandson Lima

20/10/2020

 

 

Saída que ganha força nos bastidores é que o próprio senador peça licença do cargo

Pego com R$ 33,1 mil escondidos na cueca durante operação da Polícia Federal, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) já começou a desenhar sua estratégia de defesa. O senador alegará que tentou esconder o dinheiro na roupa íntima por um “impulso”.

Segundo fontes próximas a ele, ao ler o teor do mandado de busca e apreensão, Rodrigues percebeu que no documento constava autorização para que a polícia apreendesse, se encontrasse, “montante superior a R$ 20 mil”. O senador tinha R$ 10 mil e mais US$ 6 mil em seu cofre. Só que havia separado um outro montante que estava em cima da mesa de sua residência para pagar funcionários. Foi esse dinheiro que o senador tentou botar dentro das calças ao ver a polícia.

Em nota divulgada ontem, o senador sublinhou esse argumento. “Foi uma reação impensada, de fato, mas tomada diante de um ato de terrorismo policial, sem que haja qualquer evidência de desvio em sua conduta”.

Rodrigues ainda não bateu o martelo sobre a possibilidade de se licenciar do cargo. Neste caso, ele solicitaria uma licença não-remunerada de até 4 meses, retornando apenas em 2021. Outra parte dos senadores acha, no entanto, que ele deveria encarar a situação e fazer sua defesa no Conselho de Ética agora

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), articula para que a Casa tenha um posicionamento conjunto, após determinação monocrática do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). Alcolumbre ainda cogita aguardar a apreciação do plenário do STF sobre o assunto, marcada para amanhã. Ele se reuniu com o presidente do Conselho de Ética da Casa, Jayme Campos (DEM-MT), que defende publicamente que Rodrigues se afaste das atividades para se defender das acusações.

Caso se afaste, Rodrigues solucionaria dois problemas: o STF não precisaria analisar a decisão monocrática do ministro Luís Roberto Barroso, que perderia o objeto. E o próprio Senado não precisaria confrontar a Corte por uma “interferência”. Este caminho seria o menos turbulento também para Alcolumbre porque evitaria um choque entre o presidente do Senado e o STF, às vésperas da eleição interna do Legislativo.

Além disso, o afastamento pode segurar a tramitação da representação contra Rodrigues no Conselho de Ética. Não há nenhuma previsão regimental nesse sentido, mas não seria uma novidade: em 2016, o ex-senador Delcídio do Amaral conseguiu adiar seguidas vezes seu depoimento ao colegiado renovando um afastamento por questões médicas. Delcídio foi posteriormente cassado.

O argumento usado por Barroso para afastar Rodrigues do mandato parlamentar acabou por criar mais resistência à decisão dentro do Senado. Os parlamentares defendem que Barroso "forçou a mão".Uma das justificativas usadas pelo magistrado para embasar o afastamento do cargo foi que o parlamentar integra a comissão mista do Congresso destinada a acompanhar os gastos federais com a pandemia da Covid-19. Rodrigues é membro suplente da comissão. Para os senadores, houve uma interpretação equivocada sobre as funções desse colegiado, uma vez que a Comissão não determina gastos. “Não existe uma comissão da covid que distribui dinheiro", rebateu o senador Espiridião Amin (PP-SC).