O globo, n. 31829, 28/09/2020. País, p. 4

 

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28/09/2020

 

 

Apoio de Bolsonaro gera polêmica na campanha do Rio

 O presidente Jair Bolsonaro foi o principal personagem do primeiro dia de campanha eleitoral à prefeitura do Rio. O atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, recorreu à imagem do presidente em um “santinho virtual” e foi criticado por seus adversários Luiz Lima (PSL) e Eduardo Paes (DEM).

Bolsonaro vinha oferecendo apoio velado ao prefeito, mas declarava que não participaria do primeiro turno das eleições municipais. Um vídeo com o jingle da campanha de Crivella, também divulgado ontem, diz que o prefeito está “junto com Bolsonaro”.

Luiz Lima, que faz parte da base do governo no Congresso e foi lançado pelo PSL na expectativa de atrair o apoio de Bolsonaro, alfinetou Crivella citando o apoio do Republicanos à candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência em 2018.

Já Paes tentou se descolar da polarização nacional e disse que não fará campanha “para puxar saco de Bolsonaro, Lula ou Ciro”, citando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidenciável Ciro Gomes (PDT). Martha Rocha, candidata do PDT, também evitou recorrer a lideranças nacionais e se apresentou como “delegada” a eleitores.

 CAMPANHA EM FAVELAS

No primeiro dia oficial de campanha, Crivella não compareceu a um culto ecumênico no Parque Madureira, na Zona Norte do Rio, que havia sido anunciado por sua equipe. Em vez disso, participou de encontros com candidatos a vereador do Republicanos no bairro do Santo Cristo, na região central do Rio, e na favela do Jacaré, na Zona Norte. Os encontros não foram divulgados à imprensa.

Em breve discurso no primeiro evento, organizado por Pablo Mello — membro do grupo de WhatsApp dos “Guardiões de Crivella”, alvo de investigação do Ministério Público —, o prefeito afirmou ter “a consciência tranquila e o coração sem medo”. Esta semana ele foi condenado a oito anos de inelegibilidade, pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), por abuso de poder político. Ainda cabe recurso da decisão.

Paes, que iniciou a campanha de rua no Morro do Adeus, no Complexo do Alemão, divulgou um vídeo ainda na madrugada se defendendo de acusações de corrupção e dizendo ser “ficha limpa”. Assim como Crivella, Paes foi julgado inelegível pelo TRE-RJ, mas conseguiu uma liminar ainda em 2018 para suspender a condenação e o processo até hoje não foi retomado.

Durante a agenda no Alemão, Paes evitou explorar a situação jurídica de Crivella e disse torcer para que ele tenha seu recurso aceito e dispute a eleição, por querer “derrotá-lo nas urnas”. O exprefeito procurou também associar Crivella ao governador afastado Wilson Witzel (PSC), seu adversário nas eleições de 2018, para atacar a atual gestão e também fazer um aceno a Bolsonaro.

— Esse ex-juiz (Witzel) se elegeu porque sinalizou que tinha apoio do Bolsonaro. Qual foi a primeira coisa que ele fez depois? Brigou com o Bolsonaro. Eu não tive apoio do Bolsonaro, mas no dia seguinte estaria lá me colocando à disposição, se tivesse ganho —afirmou.

Lima, que iniciou a campanha com uma caminhada em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, foi acompanhado por apoiadores que usavam camisetas da campanha eleitoral de Bolsonaro em 2018 e bandeiras do Brasil. Mesmo impedido de usar a imagem do presidente, por conta do apoio a Crivella, Lima fez acenos ao eleitorado bolsonarista.

— Enquanto eu estava na rua, em 2018, pedindo votos para o presidente, o Crivella estava pedindo votos para o Alckmin —afirmou.

Martha Rocha, além da caminhada em Copacabana, visitou um Centro Integrado de Educação Pública (CIEP), conhecido como “Brizolão”, e direcionou críticas a Crivella e a Paes.

—Essas experiências já foram conhecidas pelos cariocas, que não querem a possibilidade de fantasmas do passado voltarem a assombrar a gestão municipal.

Clarissa Garotinho (PROS) promoveu um ato simbólico em frente à sede da Prefeitura do Rio, na Cidade Nova, e também criticou as gestões anteriores. Suêd Haidar (PMB) fez uma live para apresentar a candidatura e Glória Heloíza (PSC) reservou o domingo para gravar programas eleitorais. Cyro Garcia (PSTU) fez uma reunião virtual com seu comitê de campanha.