O globo, n. 31829, 28/09/2020. Economia, p. 20

 

Pix pro­me­te ra­pi­dez e con­ve­ni­ên­cia pa­ra trans­fe­rir re­cur­sos

Gabriel Martins

28/09/2020

 

 

Especialistas, no entanto, alertam que usuário precisa ter cuidado com seus dados, a fim de evitar fraudes financeiras
O Pix, criado pelo Banco Central (BC), entra em funcionamento no dia 16 de novembro, mas algumas instituições financeiras já oferecem um pré-cadastro aos correntistas. O novo sistema de pagamentos e transferências estará disponível 24 horas por dia, sete dias por semana. Mas a promessa de velocidade e conveniência traz a reboque a necessidade de cautela, ressaltam especialistas. Mesmo sendo considerado seguro, caberá ao usuário do Pix cuidar da segurança de seus dados.

 Como funciona

O Pix não é um aplicativo nem um novo banco. Ele é uma funcionalidade que ficará disponível nos apps dos bancos em que a pessoa já tem conta. Por permitir pagamentos e transferências instantâneos, ele é uma opção aos tradicionais DOC/TED e aos boletos.

O meio de pagamento estará disponível para qualquer pessoa física ou empresa que tenha uma conta corrente, de depósito ou vinculada a cartão pré-pago. Atualmente, alguns bancos e fintechs estão fazendo o pré-cadastro das chaves de acesso para usar o Pix. Podem ser cadastrados número do celular, CPF/CNPJ e e-mail.

O novo sistema elimina a necessidade de ter em mãos uma série de dados hoje exigidos para transferir recursos, como número de agência e conta, CPF e outros. Ao informar apenas uma das chaves, a operação é processada e concluída.

Para transferências entre pessoas físicas e pagamentos feitos por estas a empresas, o Pix será gratuito. Já no caso de transações entre empresas, as instituições financeiras poderão cobrar uma taxa.

O BC não estabeleceu um limite para oPix,m asas instituições financeiras poderão impor valores máximos par acada transação. Estes, no entanto, não poderão ser inferiores aos limites estabelecidos para outras opções de pagamento.

 Rápido e sem contato

Um dos principais objetivos do Pixé a agilidade. Ele promete processar e autenticar 99% das transações realizadas em até 10 segundos, independentemente de dia e horário.

No momento da entrada em vigor do sistema, os clientes devem ficar atentos sobre os dados escolhidos para a chave em cada banco, explica Priscilla Santos, advogada da área de Bancário e Financeiro do escritório Tauil & Chequer:

No momento da entrada em vigor do sistema, os clientes devem ficar atentos sobre os dados escolhidos para a chave em cada banco, explica Priscilla Santos, advogada da área de Bancário e Financeiro do escritório Tauil & Chequer:

— Para que haja essa agilidade, a chave (e-mail, celular etc.) vai ficar atrelada a uma conta. Ou seja, se a pessoa é cliente em mais de um banco, ela precisa escolher qual informação atrelar a cada conta. É possível alterar as chaves posteriormente, mas o ponto central é que a chave está ligada à conta, não a toda a vida financeira da pessoa.

Na hora de fazer compras, o Pix também poderá ser usado via QR Code. O consumidor abre o aplicativo do banco ou da fintech, seleciona a opção Pix e direciona a câmera do celular para o QR Code disponibilizado pelo estabelecimento comercial.

A loja também pode, assim como em transferências, informar a sua chave Pix, que será uma identificação baseada em um CNPJ, email ou celular.

Outra vantagem do Pix ressaltada pelo BC é a ausência de contato com outros dispositivos —de grande utilidade em tempos de pandemia. O sistema elimina a necessidade de manusear maquininhas, por exemplo. Toda a funcionalidade fica no celular, tanto da pessoa que está pagando quanto de quem está recebendo.

Outra vantagem do Pix ressaltada pelo BC é a ausência de contato com outros dispositivos —de grande utilidade em tempos de pandemia. O sistema elimina a necessidade de manusear maquininhas, por exemplo. Toda a funcionalidade fica no celular, tanto da pessoa que está pagando quanto de quem está recebendo.

 Riscos de segurança

Quanto a possíveis preocupações com a segurança dos dados, especialistas destacam que o sistema bancário brasileiro é reconhecido como um dos mais seguros do mundo e que a chegada do Pix demanda, basicamente, os mesmos cuidados que se deve ter com outros meios de pagamento.

— As tentativas de fraude virtuais são constantes e crescentes, porque o dinheiro, cada vez mais, é digital. Entretanto, a principal chave para a fraude tem mais a ver com a engenharia social (a forma como a pessoa usa as aplicações) do que com falhas sistêmicas —explica Arthur Igreja, especialista em tecnologia e segurança digital.

Na sexta-feira, a empresa de segurança Kaspersky Lab informou que criminosos estão usando anúncios falsos de cadastramento do Pix para coletar dados bancários e pessoais (como CPF e senhas) e, com isso, ter acesso a uma futura conta no novo sistema de pagamentos.

— O e-mail que identificamos usava o nome de um banco popular e trazia um link para que o usuário fizesse o cadastro no Pix. O link direcionava a um site falso, que simulava o banco e pedia que a vítima inserisse a sua senha bancária, além do número do celular e do CPF — explica Fabio Assolini, analista do Kaspersky.

Outro ponto de atenção na hora de fazer uma operação financeira é a rede usada. Em locais com Wi-Fi aberto, há o risco de interceptação.

—Em redes públicas, o ataque virtual pode capturar o tráfego de dados. Nas transações financeiras, o grau de criptografia é muito alto, o que dificulta a decodificação. O principal risco é a pessoa ter senhas anotadas no bloco de notas do celular, por exemplo, que é um mecanismo de fácil acesso. A rede pública expõe mais os dados, então é preferível usar o pacote de dados ou o Wi-Fi de casa, que deve ter uma senha robusta —diz Igreja.

No caso de roubo de celular, a principal recomendação é comunicar imediatamente o ocorrido às instituições financeiras. Em relação à segurança dos aplicativos bancários, como é necessária mais de uma autenticação (senha digital, reconhecimento de impressão digital, chave eletrônica), a atuação dos criminosos é dificultada. De toda forma, é preciso comunicar rapidamente os bancos.

Além disso, o Pix entra em vigor já sob a batuta da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que estabelece um código restrito para coletar e usar os dados dos clientes.

 Problemas de uso

Por mais sofisticado que seja o Pix, no entanto, podem surgir problemas em atividades cotidianas. Na hora de pagar uma compra, por exemplo, a pessoa pode ficar sem sinal no celular ou sem bateria. Ou cometer um erro de digitação na hora de informar um e-mail ou celular.

O cancelamento de uma transação no Pix só pode ser feito antes de ela ser concluída. O sistema permitirá a devolução de valores, mas esta deverá ser iniciada por quem recebeu. Ou seja, se a pessoa enviar um valor errado, será necessário negociar para obter o dinheiro de volta.