O globo, n. 31830, 29/09/2020. Sociedade, p. 12

 

Covid-19 já fez 1 milhão de vítimas fatais pelo mundo

Renato Grandelle

Johanns Eller

Constança Tatsch

29/09/2020

 

 

Maior número de mortos foi registrado nos Estados Unidos; Brasil, segundo mais afetado, tem mais de 142 mil óbitos

 Nove meses após sua irrupção na China, a Covid-19 chegou ontem à marca de um milhão de mortes no mundo, em meio a uma segunda onda de casos nos países europeus e ainda longe de ser contida nos Estados Unidos, na América Latina e na Índia.

No total, o novo coronavírus infectou mais de 33,2 milhões de pessoas no mundo, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins (EUA).

Os EUA são, de longe, o país mais afetado em número de mortes e casos, com aproximadamente 205 mil mortes e mais de sete milhões de infectados. São seguidos pelo Brasil, com cerca de 142 mil óbitos até ontem, e depois por Índia (95,5 mil), México (76,4 mil) e Reino Unido (42 mil). Na Índia, a pandemia avança de forma avassaladora.

A SITUAÇÃO DO BRASIL

O Brasil registrou, segundo o boletim das 20h de ontem do consórcio de veículos de imprensa, 16.412 novos casos e 385 novas mortes por Covid-19. Com isso, são 4.748.327 contágios e 142.161 vidas perdidas para o vírus. A média móvel de óbitos no Brasil está pouco abaixo de 700, o equivalente a quatro Boeings 757 lotados caindo diariamente no país.

O avanço do coronavírus não surpreendeu Gabriel Maisonnave Arisi, pesquisador da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, que acompanha a pandemia desde os primeiros casos, em janeiro.

— A taxa de reprodução do vírus era muito alta, com uma pessoa contaminada contagiando outras três ou quatro. O lockdown chinês não abrangeu o transporte aéreo, que foi o grande vetor da doença.

O pesquisador calcula que a pandemia matará 210 mil pessoas no Brasil até o final do ano. É um sinal de que o país ainda vai demorar para recuperar-se do pico da pandemia, em agosto, onde o número de casos ficou estagnado em um nível que, segundo ele, era inaceitável.

Guilherme Werneck, professor de epidemiologia da Uerj, indica que várias nações não demonstraram visão estratégica para lidar com a pandemia —o Brasil é um “exemplo claro”.

— Faltaram equipamentos de proteção individual e ventiladores no mundo inteiro, mas temos uma base industrial e tecnológica razoável. Poderíamos ter nos preparado melhor para a produção de materiais mais rapidamente.

Werneck critica o enfrentamento do coronavírus pelo governo federal, que define como “errático” e que teria optado por confrontar evidências científicas:

—O vírus chegou ao Brasil dois meses depois de outros países. Sabíamos que não era uma situação banal. O governo deveria ter buscado uma união do sentes federativos para um discurso de união nacional que chamasse a população.

Arisi avalia que o coronavírus está mudando de estágio, de uma pandemia para a endemia, um sinal de que permanecerá mais tempo entre a população mundial.

— Continuaremos usando máscara durante todo o ano que vem. Será uma longa transição até alcançarmos uma vacina de acesso universal.

COVID PELO MUNDO

O estado de Nova York, primeiro epicentro do Covid-19 nos EUA, registrou, pela primeira vez desde 5 de junho passado, mais de mil casos de contágio em um dia. Como vem acontecendo na Europa, porém, os registros de mortes ainda são menores na comparação com março e abril.

Na Europa, as restrições são multiplicadas para conter novossurtos. A região de Madrid, na Espanha, prepara-se para estenderas restrições em vigor anovas áreas. A partir desta segunda-feira, mais 167 mil habitantes — ultrapassando, assim ,1 milhão de pessoas—só poderão sair de seus bairros para trabalhar, ir ao médico ou levar os filhos à escola.

No Reino Unido, quase metade do País de Gales entrou em confinamento anteontem.

Na França, o governo reforçou na semana passada as medidas sanitárias para conter o coronavírus em 11 grandes cidades, incluindo Paris, onde o fechamento dos bares foi antecipado para 22h.