Título: Desoneração contém demissões
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 01/03/2013, Economia, p. 10

Beneficiadas pela desoneração na folha de salários, com a troca da contribuição de 20% ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) por uma taxa entre 1% e 2% do faturamento, as fabricantes de eletroeletrônicos asseguraram ontem, ao Ministério da Fazenda, que a medida permitiu a redução imediata dos preços aos consumidores. Em 2012, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, a inflação acumulada dos eletrônicos foi, em média, de 2,74%. No mesmo período, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial de inflação, subiu 5,84%.

A desoneração da folha de pagamento começou com 15 setores, mas, conforme projeto aprovado pelo Congresso, o benefício foi estendido a 48 setores e, agora, só depende da sanção da presidente Dilma Rousseff para entrar em vigor. A medida tem por objetivo permitir a redução de custos de setores intensivos em mão de obra e ampliar a competitividade do país no exterior.

Apesar dos compromissos assumidos com o governo, nem todos os setores estão seguindo à risca o acertado com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. É o caso das indústria têxtil, que, há vários anos, sofre com a concorrência maior de importados, sobretudo os chineses, que chegam ao Brasil a preços menores do que os praticados nos países de origem. No ano passado, as fábricas contabilizaram 7 mil demissões líquidas.

“Mas isso foi pouco perto do que se desenhava para o ano”, garantiu o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Aguinaldo Diniz Filho. A prova disso, segundo ele, foi 2011, quando 16 mil vagas no setor foram fechadas. “É por isso que dizemos que houve ganhos e melhoria de produtividade com a desoneração da folha. Contudo, esse benefício não é suficiente para enfrentarmos a concorrência predatória que o Brasil está vivendo com a desindustrialização”, afirmou.

Impacto Também atingidas pela crise externa, a indústria de eletroeletrônicos mostrou um resultado menos decepcionante. “No ano passado, abrimos 3 mil postos de trabalho. Não fosse a desoneração da folha, certamente teria havido demissões e não contratações no setor”, frisou Barbato.

Como ainda não há uma clareza do real impacto da medida sobre os setores beneficiados, entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Fundação Getulio Vargas (FGV) elaboram um estudo que mostrará quais foram os resultados apresentados pelas empresas depois de atendidas pelo governo. “Começamos a estruturar um processo para criar indicadores estruturados de acompanhamento, para entender como esse processo está impactando a competitividade, a produção e o emprego, além da arrecadação dessas empresas”, antecipou gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castello Branco.