Título: Máquinas furtadas
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 04/03/2013, Política, p. 2

O descaso com o dinheiro público no assentamento Três Barras não se restringe aos desvios e falhas que levaram ao abandono da obra de irrigação. Como as subestações de energia e os pontos de captação de água nunca funcionaram, equipamentos milionários ficaram guardados na área rural de Cristalina. Sem segurança para preservar o material, bandidos roubaram transformadores potentes, hidrômetros, canos e motores avaliados em até R$ 1 milhão. No local onde antes estavam instalados os aparelhos para irrigar as propriedades rurais, hoje vivem pombos. As tubulações estão tomadas por mato alto e desgastadas pela ação do tempo.

O roubo de equipamentos da obra abandonada é um problema já identificado pelo Tribunal de Contas Estadual de Goiás (TCE-GO). “A situação encontrada pela equipe de auditoria durante as vistorias nas estações de bombeamento é de abandono. As portas locais estavam avariadas e apresentavam sinais de arrombamento. Os equipamentos eletromecânicos encontravam-se sujos e danificados, os quadros de comando depredados e parte dos cabos de energia furtados”, diz um trecho do relatório produzido por técnicos do Tribunal de Contas. O processo está em fase de instrução e não há prazo para julgamento no TCE. Em instrução técnica elaborada em julho do ano passado, o tribunal estabelece prazo até abril de 2013 para que o governo de Goiás retire o material de valor do local e transfira os equipamentos para um almoxarifado de Goiânia.

No parecer elaborado pelo Ministério Público de Contas de Goiás em agosto de 2012, há confirmação das irregularidades identificadas. O procurador Sandro Alexander Ferreira assegura no documento que “houve atos de improbidade administrativa” e recomenda a aplicação de pena aos agentes públicos responsáveis pelo ato, sem detalhar quem seriam os responsáveis pelo escândalo do projeto de irrigação de Três Barras.

Auditoria A Corregedoria-Geral da União informou que não há mais auditoria em curso sobre os desvios de Três Barras, mas que existem processos administrativos disciplinares ainda em curso. A CGU informou que, na época, as principais constatações foram “sobrepreço, direcionamento na condução do processo licitatório, superfaturamento da obra, inconsistências no projeto, inviabilidade técnica e econômica do projeto e realização de uma obra não funcional”. Uma auditoria realizada pouco após a conclusão da obra classificou o projeto de irrigação como “uma aberração administrativa”. Já o processo no Tribunal de Contas da União foi convertido em tomada de contas especial, para apuração dos fatos, definição dos valores desviados e identificação dos responsáveis. Não há previsão de quando haverá uma decisão sobre o caso.

Para os produtores da região, a demora no processo de apuração do desperdício de dinheiro deixou uma sensação de impunidade. O presidente da Cooperativa Agrícola Três Barras, Belchor Ferreira dos Santos, 56 anos, se revolta ao falar sobre o caso. “A gente tentou preservar os equipamentos por algum tempo, colocando cadeados nas subestações. Pedimos providências, como o envio de vigilantes, mas ninguém se interessou. Roubaram tantos aparelhos que somente com o auxílio de um caminhão conseguiram transportar todo o material da obra”, conta Belchor, que há 25 anos produz soja e leite em sua propriedade.