O Estado de São Paulo, n.46292, 15/07/2020. Economia, p.B8

 

Economia cai 11,4% em três meses, diz BC

Fabrício de Castro

15/07/2020

 

 

Considerado uma prévia do PIB, IBC-BR acumula queda recorde entre março e maio; apesar disso, dados já indicam sinais de lenta reação

A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus fez a atividade econômica no Brasil despencar 11,43% em apenas três meses, de março a maio deste ano, de acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central. No período, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-BR) – considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) – passou de 139,84 pontos para 120,42 pontos.

Esse é o maior recuo porcentual para um período de três meses em toda a série histórica do BC, iniciada em janeiro de 2003. Nem na crise fiscal de 2015 e 2016 ou na turbulência global de 2008 o Brasil registrou uma queda tão intensa da atividade econômica em um período de três meses.

O intervalo de março a maio corresponde ao de maior isolamento social nas cidades brasileiras, que impactou a atividade econômica nos mais diversos setores.

Na visão do governo, porém, o pior momento já passou. Os dados divulgados pelo BC sugerem um início de retomada. É que em maio o IBC-BR apresentou alta de 1,31% na comparação com abril, na série já ajustada sazonalmente. Foi a primeira alta registrada desde fevereiro, quando houve elevação de 0,35% na atividade, considerando a série com ajustes sazonais.

A retomada da atividade em maio, no entanto, ficou abaixo da expectativa do mercado financeiro. Conforme levantamento do Projeções Broadcast, economistas esperavam por alta entre 1,90% e 7,20% da atividade econômica em maio, após a forte retração de abril (-9,45%).

"Estamos numa trajetória de recuperação, mas ela é bem lenta, bem gradual mesmo. Nós vimos uma melhora forte na produção industrial (7,0%) e nas vendas do varejo ampliado (19,6%), mas o desempenho dos serviços (-0,9%) mostrou que essa melhora da atividade ainda vai ser contida no segundo trimestre", afirma o economista João Leal, da Rio Bravo Investimentos.

Já o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, decidiu manter sua estimativa para o PIB do segundo trimestre, de queda de 10,1%, mesmo após o resultado do IBC-BR de maio. Para o analista, o dado de maio serviu apenas para confirmar a tendência de recuperação da economia. "É uma coisa lenta, gradual, mas todos os dados têm surpreendido. As próprias sondagens de confiança estão em nível bem maior que o esperado, e a nova postura do presidente (Jair Bolsonaro), de ficar mais calado, reduz o ruído e abre espaço para coisas como os programas de privatizações."

Considerando apenas maio, o IBC-BR despencou 14,24% em relação ao mesmo mês do ano passado, na série sem ajustes sazonais.