Título: Impacto na poupança
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 05/03/2013, Economia, p. 8

Com as chances cada vez maiores de o Banco Central subir a taxa básica de juros (Selic) — hoje em 7,25% ao ano —, os rendimentos da tradicional caderneta podem aumentar. Pela regra que entrou em vigor em 2012, se os juros retornarem a um patamar superior a 8,5% ao ano, a poupança voltará a pagar ao depositante 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). Atualmente, o ganho é de 0,41% mensais, equivalente a 70% da taxa básica (a TR tem ficado em zero). Nem assim, no entanto, seria possível vencer a inflação, que acumulou alta de 6,15% em 12 meses, em janeiro, e não dá mostras de que vá ceder. Em 2013, nenhuma aplicação conseguiu bater a carestia. Até mesmo o ouro, que foi um dos melhores investimentos de 2012, segundo o Banco Central, teve rentabilidade negativa de 2,28% no primeiro mês do ano.

Com o desempenho ruim do mercado financeiro, muitos brasileiros têm convertido aplicações em consumo. Os estoques de algumas das principais modalidades de investimento no país vêm crescendo pouco ou apresentando retração em relação à posição do fim de 2012. O saldo dos CDB encolheu 3,47% neste ano, até 15 de fevereiro; os fundos extramercado (formados por dinheiro de autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, exceto a Petrobras) perderam 16,17% de patrimônio; os de ações encolheram 0,43%. A poupança, um dos poucos ativos que ainda ostenta desempenho positivo, cresceu 1,35%; e os fundos de investimento, excluindo os já citados, 2,98%.

A Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa) também tem decepcionado e, apenas em 2013, acumula perda de 7,31%. Ontem, ela amargou mais um revés, caiu 0,68% e fechou o dia aos 56.499 pontos. Segundo especialistas, conseguir um investimento que supere a inflação se tornou missão complicada no Brasil. Eles explicam que, cada vez mais, os investidores terão de estudar e entender o mercado financeiro se quiserem obter ganhos superiores ao aumento do custo de vida. Além disso, terão de assumir mais riscos. A Bolsa de Valores deve ganhar mais atenção, já que praticamente não existem produtos de renda fixa que ofereçam, com facilidade, ganhos reais.

A poupança, ensinam os especialistas, passará a servir apenas como uma reserva para emergências, indicada para quem sabe que resgatará o valor em menos de um ano, já que pode ser sacada a qualquer momento sem perda de rentabilidade. A grande vantagem da caderneta é que sobre os rendimentos não incidem nem o Imposto de Renda nem o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).