O Estado de São Paulo, n.46293, 16/07/2020. Política, p.A10

 

Bolsonaro foi vítima de fraude no Chile, afirma Promotoria

Tulio Kruse

16/07/2020

 

 

País vizinho abriu investigação contra 26 funcionários da rede Falabella, que identificou compras irregulares

O Ministério Público do Chile abriu inquérito para investigar a utilização irregular de cartões de créditos para compras na rede de lojas Falabella, gigante do setor de varejo no país. Entre as vítimas do golpe estão o presidente Jair Bolsonaro e dois de seus filhos, Flávio e Carlos. Os três tiveram seus dados pessoais divulgados na internet. O promotor responsável, Jaime Retamal, pediu para que o caso seja apurado também no departamento especializado em cibercrimes da polícia chilena.

A informação foi passada às autoridades chilenas pela Falabella. A rede de lojas afirmou que 26 pessoas teriam utilizado dados pessoais e cartões de crédito de terceiros para fazer compras ilegais. As fraudes tiveram início em 1.º de junho, segundo a Promotoria.

"Os denunciados seriam empregados ou membros de marcas vinculadas à Falabella", informou a Promotoria Central Norte ao Estadão. "Abrimos uma investigação pelo delito de uso fraudulento de cartão de crédito contra 26 pessoas imputadas por utilizar os cartões bancários do presidente Bolsonaro e seus filhos."

Procurada, a Secretaria de Comunicação da Presidência afirmou que "a informação em relação ao presidente não procede", sem dar mais detalhes. Segundo a imprensa chilena, dados bancários do vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos), do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do presidente foram utilizados para comprar celulares, bicicletas e relógios.

A principal suspeita é a de que os empregados tenham conseguido acesso a informações pessoas da família do presidente na internet. Bolsonaro e seus filhos foram alvo de vazamentos de dados feito pelo grupo hacker Anonymous. Em 2 e 3 de junho, eles divulgaram em redes sociais números de telefone, endereços e documentos de identidade da família do presidente e de ministros.

Na época, Bolsonaro classificou a exposição de seus dados pessoais na internet como "uma clara medida de intimidação" e prometeu tomar "medidas legais". Ainda de acordo com a imprensa chilena, no início de junho, usuários de redes sociais fizeram publicações dizendo que usaram dados do presidente brasileiro para comprar produtos pela internet.

 

Descoberta. O esquema foi descoberto quando a Falabella identificou que os mesmos números de cartões de crédito realizaram múltiplas operações, por diversas pessoas, em um curto espaço de tempo.

A empresa teria detectado 27 mil ordens de compra suspeitas em seu site que, somadas, chegaram a US$ 63 mil – nem todas envolviam a família Bolsonaro. A Falabella ressaltou, no entanto, que as compras fraudulentas não foram completadas, e o esquema teria sido desbaratado sem que o dinheiro tenha sido efetivamente usado. "Todas as solicitações foram recusadas graças à ativação do protocolo de validação de compra", disse o advogado da empresa ao jornal chileno El Mercurio.

No Chile, as penas para o crime de fraude com cartão de crédito vão de 541 dias a cinco anos de prisão. O condenado também pode ser intimado a pagar multas que chegam ao triplo do valor fraudado.