Correio braziliense, n. 20958, 10/10/2020. Política, p. 3

 

Mourão sobre Ustra: "homem de honra"

Sarah Teófilo 

10/10/2020

 

 

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), disse que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, condenado por sequestro e tortura cometidos durante a ditadura militar no Brasil, era um “homem de honra” e que ele “respeitava os direitos humanos de seus subordinados”. As falas foram proferidas em entrevista à Deutsche Welle, uma televisão alemã. O presidente Jair Bolsonaro já elogiou Ustra diversas vezes. Fez referência ao militar quando votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016. “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”, afirmou em seu voto.

Na entrevista ao veículo alemão, Mourão elogiou a conduta de Ustra. “O que posso dizer sobre o homem Carlos Alberto Brilhante Ustra, ele foi meu comandante no final dos anos 70 do século passado, e era um homem de honra e um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados. Então, muitas das coisas que as pessoas falam dele, eu posso te contar, porque eu tinha uma amizade muito próxima com esse homem, isso não é verdade”, disse Mourão.

Questionado, então, se Ustra foi injustamente condenado por tortura, o vice-presidente afirmou que não é alinhado à tortura, e que “muitas pessoas ainda estão vivas daquela época, e todas querem colocar as coisas da maneira que viram”. “É por isso que eu disse: antes que temos que esperar que todos esses atores desapareçam para que a história faça sua parte”, afirmou.

As referências elogiosas ao coronel são constantes no governo do presidente Jair Bolsonaro. Em agosto do ano passado, por exemplo, o presidente almoçou com a viúva de Ustra, Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra, e afirmou que o coronel é um “herói nacional”. “Tem um coração enorme. Eu sou apaixonado por ela. Não tive muito contato, mas tive alguns contatos com o marido dela enquanto estava vivo. Um herói nacional que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda, hoje em dia, quer”, afirmou.  Em novembro do ano passado, Bolsonaro voltou a receber a Maria Joseíta no Palácio do Planalto.

Ustra morreu em 2015, com 83 anos. Ele esteve à frente do DOI-Codi, órgão de repressão durante a ditadura militar. Durante o período em que ele esteve chefiando o órgão, o relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) identificou 45 mortes e desaparecimentos forçados, entre 1970 e 1974.

Ainda na entrevista, o vice-presidente afirmou ainda que “há um excesso de 'tribalismo' (no Brasil) e os lados políticos estão muito polarizados”. “Há muita polarização na política, mas a nossa administração está conduzindo bem o país e as coisas estão melhorando”, disse Mourão.

“(Ustra) Era um homem de honra e um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados”