Correio braziliense, n. 20959, 11/10/2020. Economia, p. 9

 

Pandemia encolhe lista de presentes

Bruna Pauxis 

Jailson R. Sena 

11/10/2020

 

 

Diferentemente do ano passado, o comércio não está muito otimista com as vendas para o Dia das Crianças em meio à pandemia do novo coronavírus. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as compras devem registrar queda de 4,8%, em relação a 2019. Contudo, a retração — primeira nos últimos quatro anos — não será a pior da história. Em 2016, o recuo chegou a 8,1%. A data, a terceira mais importante do calendário do varejo nacional, atrás de Natal e Dia das Mães, deve movimentar R$ 6,2 bilhões neste ano.

Segundo uma pesquisa feita pela empresa Social Miner, 62% dos brasileiros entrevistados pretendem comemorar o Dia das Crianças em meio à pandemia, e 40% deles presentearão alguém. Dentre os consumidores das classes A e B, 57% foram às compras, enquanto entre as classes C, D e E, esse número cai para 37%. Já sobre quem ganhará presentes, 48% lembrarão dos sobrinhos; 42%, dos filhos; 24%, afilhados; 12%, irmãos; 10%, netos; 9%, outros; e 6%, enteados. Cerca de 7% pretendem presentear a si próprio, mesmo não sendo mais criança.

Mais procurado

Entre as categorias mais procuradas na hora das compras, os brinquedos lideram com folga, sendo 77% das intenções de compra. Os tempos mudaram, contudo, e, em 2020, nem todos procuram por carrinho ou boneca. Jogos são a escolha de 35% dos entrevistados; moda e acessórios, 29%; e eletrônicos, 25%. É o caso dos filhos da servidora pública Giane Figueiredo, de 40 anos, moradora de Brasília.

“Algo que veio muito na pandemia foi uma utilização maior de coisas on-line. Tanto que meus dois filhos queriam ganhar coisas eletrônicas”, conta. Para Giane, o uso demasiado de tela “é ruim, principalmente, para o desenvolvimento social. Meu filho mais novo está descendo bem menos para brincar no parquinho”. Com isso, ela teve que convencer o filho a optar por um presente que dê para jogar com os amigos na quadra.

A psicóloga Tássia Alencar sugere alternativas para não deixar passar a data em branco, seja em família ou com amigos, desde que sejam seguidos os cuidados de prevenção contra a covid-19. “O que os pais podem fazer é sugerir que, nessa data, o presente será com algo que todos possam brincar, como um jogo, passear em algum lugar, algo que a família possa fazer junto. Também podem combinar com a criança de que, nessa data, não tenha nada de eletrônico, nada de jogo em que ela jogue sozinha e que seja algo em que todos possam brincar juntos”, pontua.

Supermercados

Apesar de o cenário de vendas no comércio ser pessimista, há quem tenha motivos para comemorar. Com alta esperada de 3,2%, os hiper e supermercados deverão movimentar R$ 4,4 bilhões (70,2% do total). Segundo o economista Fábio Bentes, da CNC, o motivo é simples: o setor é o único dos segmentos a alcançar o nível de faturamento pré-pandemia, o que indica uma recuperação. “Os segmentos de vestuário, livraria, papelaria, eletroeletrônicos e brinquedos, com destaque para os dois últimos, já tem alguma expectativa de recuperação nos próximos meses. Livraria e papelaria ainda estão com faturamento 40% abaixo, em comparação ao primeiro bimestre deste ano, e vestuário tem uma queda com diferença de cerca de 10% a menos em relação ao faturamento do ano passado”, explica.

Segundo o presidente da CNC, José Roberto Tadros, o travamento do mercado de trabalho, com desemprego em alta, aumento da informalidade e subutilização da força de trabalho, ainda é um obstáculo a ser superado. “Este é um desafio para o setor, não apenas para esta data comemorativa, mas também para as demais que estão por vir”, afirma. Ele ressalta que  “a redução do valor do auxílio emergencial, a partir de setembro, também deverá dificultar a retomada das vendas, mesmo em um cenário de inflação e juros baixos”.

*Estagiários sob a supervisão de Andreia Castro