O Estado de São Paulo, n.46296, 19/07/2020. Internacional, p.A11

 

Sintonia sobre Amazônia seria essencial em aproximação

Beatriz Bulla

19/07/2020

 

 

Para abrir caminho com os democratas, Jair Bolsonaro terá de se mostrar disposto a discutir temas sensíveis, como a proteção da Amazônia. "Bolsonaro tem uma abordagem sobre meio ambiente, povos indígenas e direitos LGBT que um governo Biden não será capaz de apoiar", diz Tom Shannon, exembaixador dos EUA no Brasil.

A Amazônia é tema obrigatório na agenda democrata para negociar com Bolsonaro. Em março, em entrevista à revista Americas Quarterly, Biden afirmou que seu governo "reuniria o mundo" para garantir a proteção da floresta, caso o Brasil falhar na missão. "Biden se preocupa muito com a questão climática e é também um tema no qual a base do Partido Democrata coloca muita energia", afirma Michael Camilleri, analista do Diálogo Interamericano.

A resistência articulada pelos congressistas da ala mais à esquerda do Partido Democrata ganhou corpo depois das notícias sobre o aumento das queimadas na Amazônia, no ano passado. Neste ano, 24 deputados do Comitê de Orçamento, o mais importante da Câmara dos Deputados dos EUA, enviaram uma carta ao Escritório Comercial na qual se dizem contra um acordo comercial com o Brasil durante a gestão Bolsonaro.

Deputado e presidente da subcomissão de Comércio da Câmara, Earl Blumenauer é um dos que subscreveu a carta. Para ele, Bolsonaro é "uma imitação pobre de Trump". "A liderança brasileira atual não inspira confiança. É essencial falar sobre a Amazônia quando tratamos de mudanças climáticas globais. Biden estará em posição de colocar claramente quais são as condições dos EUA para desenvolver essa relação com o Brasil", disse Blumenauer ao Estadão.

Brasil e EUA trabalham em um pacote de facilitação de comércio que não envolve negociação de tarifas. Por isso, Trump pode assinar um acordo sem aval do Congresso. Blumenauer acredita que, mesmo uma negociação de menor escala, seja repudiada pelos democratas. "Não acho que Trump queira criar mais problema neste momento", diz o deputado.