Título: Susto na volta das férias
Autor: Tranches, Renata; Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 06/03/2013, Mundo, p. 21

Padre Cesar dos Santos, no estúdio: "Queremos logo um novo papa"

Naquela já histórica segunda-feira de carnaval, o padre Cesar Augusto dos Santos, um jesuíta fluminense de 67 anos, chefe dos programas brasileiros na Rádio Vaticano, voltava de férias. Ao entrar no escritório, no terceiro andar de um prédio no fim da mesma rua que leva à Praça de São Pedro, recebeu dos jornalistas brasileiros, quase aos gritos, a notícia mais bombástica desde o dia em que assumira o cargo, há cinco anos: "O papa renunciou!"

Informações relevantes para o mundo católico, como nomeações de bispos e a íntegra dos discursos do papa, sempre chegaram antes às mãos do padre Cesar. A decisão de Bento XVI de abandonar o posto máximo da Igreja Católica, no entanto, não surgiu com antecedência na caixa de e-mails do religioso nem mesmo constava em ofícios timbadros com o brasão da Santa Sé.

Quando, em janeiro, o então pontífice disse em audiência com o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani João Tempesta, que se não fosse ele, o próximo papa com certeza iria ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, padre Cesar achou estranho, mas nem cogitou a possibilidade de renúncia. "Todo mundo foi surpreendido mesmo."

Ao meio-dia do último domingo, o sacerdote brasileiro deveria estar em um dos estúdios da Rádio Vaticano comentando, ao vivo, a tradicional meditação do Ângelus feita pelo santo padre. "Não teve oração, não teve a ansiedade de ver o texto chegar a tempo de ser traduzido para o português, não teve nada", lamenta.

Menos de uma semana depois de o papa sair de cena, padre Cesar já sente saudades do alemão, agora enclausurado, longe das câmeras e dos microfones. "A intelectualidade de Bento XVI fará falta. Ele pode não ter sido o mais extravagante ao falar e gesticular, mas o conteúdo de suas pregações tornava o mistério da fé cristã mais inteligente", comenta.

Timidez Do papa demissionário, o responsável por levar aos brasileiros as informações do Vaticano guardará a imagem de um homem culto, sensível, educado, de muita espiritualidade e extremamente tímido. "Ele demorou a aprender a abrir os braços para o povo. No início, a timidez era tão grande que ele realmente não conseguia", lembra.

Os três programas produzidos diariamente pela equipe de seis pessoas chefiada por padre Cesar — e distribuídos para mais de 300 rádios em todo o Brasil — se sustentam na figura do pontífice. Com o cargo vago, de maneira inusitada, o noticiário teve de migrar para os trâmites da preparação do conclave, ainda sem data definida. "Queremos logo um novo papa."