Título: Confusão na eleição do pastor
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 07/03/2013, Política, p. 3
Manifestantes protestam contra a indicação de deputado acusado de homofobia para presidir a Comissão de Direitos Humanos. Sessão é adiada
A indicação do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados causou tumulto e troca de insultos nos corredores da Casa ontem. Na sessão em que o deputado acusado de adotar posições homofóbicas e racistas seria eleito, manifestantes ocuparam o plenário com faixas e hostilizaram o parlamentar, enquanto integrantes do colegiado batiam boca. Por conta do tumulto, a sessão acabou suspensa e remarcada para a manhã de hoje, com a presença apenas de congressistas e jornalistas.
O PSC escolheu Feliciano para comandar a comissão durante reunião na última terça-feira. O partido ganhou o direito de indicar o presidente por conta da divisão feita proporcionalmente entre as bancadas. Por acordo, o PSC ainda conseguiu cinco vagas no colegiado, cedidas pelo PMDB, PSDB e PP. A indicação do pastor foi questionada, porém, por conta de afirmações polêmicas já feitas por ele. Em 2011, o deputado postou no Twitter mensagens afirmando que os negros são “descendentes de ancestral amaldiçoado por Noé” e os relacionamentos entre homossexuais seriam “práticas promíscuas” que deveriam ser abominadas. “A podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à rejeição”, disse, à época.
Reunião Integrantes da comissão contrários à eleição de Marco Feliciano tentaram evitar que ele assumisse. “O regimento designa o colegiado para defender os direitos humanos e ele faz o contrário”, criticou Érika Kokay (PT-DF). O grupo sugeriu que Antônia Lúcia (PSC-AC) também se candidatasse, já que o presidente tem que ser do mesmo partido. A deputada, porém, se recusou a enfrentar a bancada. Outra proposta foi de a legenda se reunir e indicar um novo nome, o que acabou recusado pelo líder do PSC, André Moura (SE).
Diante do impasse e do protesto, o atual presidente da CDHM, Domingos Dutra (PT-MA), suspendeu a sessão. “Não dá para colocar alguém com esse nível de rejeição no cargo”, comentou. Ao sair do plenário, Feliciano afirma ter sido agredido verbal e fisicamente. “Meu direito como ser humano foi tolhido, eu não sou nada disso de que me acusam”, argumentou. Em seguida, o pastor, integrantes do PSC e parte da bancada evangélica se reuniram com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Após o encontro, Alves anunciou que a sessão seria retomada hoje com as portas fechadas para os manifestantes. “Os que forem contrários podem se ausentar ou votar contra, mas a indicação do PSC tem que ser respeitada, o mérito não está em discussão”, declarou.
Ainda ontem, foram eleitos os presidentes de outras 19 comissões: Romário (PSB-RJ) comandará a Comissão de Turismo e Desporto, e Gabriel Chalita (PMDB-SP) estará à frente da Educação.