Título: Desempenho bom, mas longe do ideal
Autor: Castro, Grasielle ; Bernardes, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 07/03/2013, Cidades, p. 31

O rendimento dos alunos de escolas públicas e privadas do DF em português e em matemática aparece nas primeiras colocações em levantamento nacional feito por ONG. Ainda assim, os brasilienses estão distantes das metas para 2022

O Distrito Federal divide com o Rio de Janeiro a liderança entre as unidades da Federação com melhor desempenho em língua portuguesa e em matemática ao fim do ensino médio. A capital do país se destaca na primeiro colocação no rendimento com as letras, e o Rio, com os números. Os dois aparecem bem acima da média nacional. Em língua portuguesa, enquanto no Brasil quase 30% dos estudantes aprendem o adequado à série, no DF, o índice chega a 40%. Já em matemática, apenas 10,3% dos brasileiros concluem o ensino médio com conhecimentos mínimos. No Distrito Federal, a taxa é de 15,8%.

Mesmo assim, os brasilienses estão longe das metas parciais estabelecidas para que, em 2022, o Brasil esteja no mesmo patamar alcançado pelos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ainda em 2006 (entre eles França, Alemanha, Espanha e Reino Unido e Estados Unidos). Para 2011, em matemática, o esperado era que o índice fosse de 33,9%, quase 18 pontos percentuais acima do apresentado pelo DF. Em leitura, gramática e interpretação de texto, faltaram 8,2 pontos percentuais. Os dados foram divulgados ontem pela ONG Todos pela educação no relatório anual De Olho nas Metas 2012.

Para muitos alunos, o resultado do levantamento reflete a realidade. Ao ouvir sobre a pesquisa, a estudante de odontologia Beatriz de Sousa Mendes, 18 anos, foi logo dizendo: “Eu sou péssima em matemática. Até chegar ao ensino médio, eu tirava notas boas. Depois, foi um desastre. Não conseguia entender geometria, e o meu professor não tinha paciência para me explicar”, conta a jovem, que desistiu de engenharia civil por causa de matemática.

A principal preocupação da entidade responsável pelo estudo é exatamente criar iniciativas para melhorar o aprendizado de alunos como Beatriz. “Não há nenhuma política realmente grande para resolver a questão. Tem a Olimpíada da Matemática, que premia, mas não serve para alavancar ninguém. Esse resultado me indignou”, critica a diretora executiva da Todos pela educação, Priscila Cruz.

O brasileiro pode até se embaralhar mais com os números, mas as letras também são um problema. Os amigos Eduardo Rodrigues, 17 anos, e Bárbara Souza, 18, se preparam para o vestibular de medicina e de arquitetura, respectivamente. Ele afirma ser bom em matemática, e ela, em português. “Nunca consegui gostar da matéria. Acho o método equivocado. Já a matemática sempre fez sentido para mim”, compara Eduardo. “Eu tenho aversão a matemática. O professor exerce uma grande influência para o aluno gostar e aprender uma disciplina. Tive bons e maus educadores, mas nunca consegui aprender bem a matemática”, reconhece Bárbara.

Acima da média Para Priscila Cruz, se investimento fosse garantia de resultado, a realidade brasiliense seria ainda melhor. “O DF já esteve melhor em outros levantamentos. Hoje, é uma prova de que investimento sem gestão adequada não é um bom casamento para conseguir qualidade. Não adianta ter bons planos no gabinete e não concretizar em educação boa nas escolas”, alertou. Ao todo, a ONG Todos pela educação acompanha cinco metas. A de análise do desempenho dos alunos é a terceira.

O coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, explica que a avaliação da rede de ensino do DF precisa levar em conta uma particularidade. “É um dos maiores custos de aluno do Brasil e, por isso, deveria estar bem acima da média”, pontua. Na análise de Daniel, ainda é preciso pagar melhor os professores, embora esteja próximo disso. “Acredito que a melhoria também seja estrutural, resultado de uma rede mais organizada”, avalia.