Título: O desafio dos presidenciáveis
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2013, Política, p. 5

Para conquistar espaço Brasil afora e se consolidar como nome forte para a eleição do ano que vem, cada um dos quatro presidenciáveis enfrentará diferentes desafios. A presidente Dilma Rousseff (PT), que no último pleito conseguiu votação expressiva no Norte e no Nordeste, precisa ampliar sua base nos estados do Sul, onde perdeu o primeiro turno em 2010. Terá ainda que brigar para manter os votos conquistados em Pernambuco e em Minas Gerais, já que as principais figuras políticas desses estados devem se lançar na disputa. A ex-senadora Marina Silva (Rede) tem seguidores fiéis em grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e Brasília, mas ainda enfrenta o ostracismo no interior do país. O governador pernambucano, Eduardo Campos (PSB), nome conhecido no Nordeste, terá que fazer caravanas para divulgar seus feitos pelo Centro-Sul. No rumo contrário, o senador tucano Aécio Neves (MG) precisará vencer resistências no Norte e no Nordeste para poder sonhar com o Palácio do Planalto.

A região Sul foi a única onde Dilma Rousseff perdeu em todos os estados no primeiro turno de 2010. Ela ficou atrás de José Serra tanto no Paraná quanto em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Entre as 10 cidades com mais de 200 mil habitantes onde a presidente teve pior desempenho, sete ficam no Sul. Em Londrina, no Paraná, por exemplo, ela conseguiu somente 24,46% dos votos válidos, seu pior resultado no Brasil entre as grandes cidades.

O presidente do PT em Santa Catarina, José Fritsch, reconhece o resultado pífio em 2010, mas diz estar otimista quanto a mudanças no cenário para o ano que vem. "Uma eleição sempre é diferente da outra. Em 2010, a oposição conseguiu incutir nos eleitores um preconceito, pelo fato de a Dilma ser mulher. Mas hoje a situação é outra, ela já consolidou com sucesso seu modo de governar", avalia. No ano passado, o partido conseguiu colocar aliados nas prefeituras das principais capitais do Sul, mas perdeu espaço em cidades importantes, como Joinville. Fritsch acredita que a influência do PSDB está reduzida na região. "Somos o segundo partido que mais cresceu eleitoralmente em Santa Catarina na eleição passada. As perspectivas para a presidente Dilma no ano que vem são boas", conclui o presidente regional do partido.

Para os tucanos, a meta é crescer em estados onde os petistas ainda têm supremacia, como no Norte. No Amazonas, por exemplo, Dilma conseguiu seu desempenho mais acachapante no segundo turno: teve 80,5% dos votos, contra 19,5% do tucano José Serra, sem nem sequer visitar o estado durante a campanha. O presidente do PSDB-AM, Arthur Bisneto, diz que o PT é forte no estado e na região por conta do uso da máquina pública. "Alguns municípios, como Manaquiri, vivem quase que exclusivamente de programas sociais do governo, que são usados eleitoralmente. As regiões mais dependentes dos programas tendem a dar votações maiores ao candidato do governo", justifica o presidente regional da legenda, que é filho do prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto. Ele acredita que a disputa municipal do ano passado ajudou a fortalecer o PSDB no Amazonas. "Em Roraima e no Pará, temos o governador e lideranças fortes em cidades como Porto Velho, em Rondônia. Já está havendo mudança dos quadros na região Norte e nosso desafio é defender candidatura própria", explica.

Divulgação dos resultados

Ciente da necessidade de se tornar conhecido em regiões como Sul e Sudeste, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, já começa a se movimentar. Em abril, ele terá agenda oficial no Rio Grande do Sul e, ao lado de aliados no estado, fará eventos importantes para começar a divulgar suas ações à frente do governo pernambucano. O deputado estadual Miki Breier, primeiro-secretário do PSB no Rio Grande do Sul, reconhece a necessidade de divulgar mais a imagem de Campos na região, mas defende que esse será um trabalho fácil. "O Rio Grande do Sul é um estado muito exigente, tanto que nenhum governador aqui jamais conseguiu se reeleger. Acredito que quando a população conhecer melhor a excelente gestão de Eduardo Campos, que conseguiu resultados excepcionais com muita transparência, as pessoas vão se interessar por ele", afirma Miki.

Eduardo tem agenda oficial em Porto Alegre em 9 de abril, quando receberá o prêmio do mérito farroupilha na Assembleia Legislativa. Na véspera, seus correligionários farão um grande evento em torno da figura de maior expressão do PSB. "Vamos aproveitar para começar uma mobilização dos socialistas do Brasil inteiro e aproveitar a agenda do governador para fazer um ato político, apresentando esse governo que nos orgulha", acrescenta Miki Breier.

Já a ex-senadora Marina Silva, que ainda corre contra o tempo para aprovar seu novo partido, a Rede Sustentabilidade, vai precisar se consolidar fora dos grandes centros urbanos, onde já é mais conhecida. Em 2010, ela concentrou 54,5% dos seus votos nos 80 maiores colégios eleitorais, em cidades com mais de 200 mil pessoas aptas a votar. Ao todo, 27,7% dos seus eleitores se concentraram em apenas 10 cidades, todas elas com mais de 1 milhão de eleitores. Nessas áreas, a ex-candidata à Presidência pelo PV conseguiu 5,4 milhões de votos, muito próximo do tucano José Serra, que teve 5,8 milhões. No DF, ela ficou em primeiro lugar, com 42% dos votos, à frente de Serra e também de Dilma.

O deputado Walter Feldman (PSDB-SP), um dos maiores apoiadores de Marina na criação da Rede, nega que o intuito do partido seja lançá-la na disputa pelo Palácio do Planalto, mas reconhece que, em caso de candidatura, Marina terá que trabalhar duro pelos votos do interior. "Já fui procurado por pessoas de 40 cidades do interior, como Americana, Itu, Taboão da Serra, muito interessadas em trabalhar na coleta de assinaturas para a criação do partido. Aproveito para dizer que a mobilização precisa ir além dessa coleta. Nessas cidades, temos que transformar isso em ação política, para sairmos do processo de criação já fortalecidos. Assim, em caso de eventual lançamento de candidatura, as coisas ficam mais simples", explicou Feldman.