Título: A Igreja somos todos nós
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2013, Mundo, p. 20

Entrevista DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS

A Igreja brasileira deseja um líder mais flexível e aberto à participação do clero e dos fiéis. "O papa não governa a Igreja sozinho. A Igreja somos todos nós", defendeu dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em entrevista exclusiva ao Correio. De passeio pelas igrejas de Roma e redondezas, ele atendeu o celular no fim da tarde e descreveu o perfil esperado pelos cinco cardeais brasileiros com direito a voto no conclave: homem de pastoral (hábil em lidar com o povo), ágil, conhecedor do funcionamento da Igreja e dos desafios a serem enfrentados. Arcebispo de Aparecida (SP), o cardeal de 76 anos — primeiro padre ordenado na Arquidiocese de Brasília — evitou citar nomes de colegas cotados e sustentou que a nacionalidade do novo pontífice não importa.

Como tem sido a preparação sua e dos outros cardeais para o conclave? Em clima de muita oração e meditação, e atendendo vocês, jornalistas. Vocês não param de nos ligar, de nos procurar, querem saber como estão as coisas, quem vai ser o novo papa...

E quem vai ser o novo papa? Chegou a hora de um papa brasileiro? Quem sabe? É possível que sim, mas a origem do papa não é o fundamental. Se for desta vez um brasileiro, ótimo, mas cada cardeal tem liberdade para votar diante de Deus.

Entre os brasileiros, dom Odilo Scherer tem sido o mais citado. Gostaria de vê-lo papa?

Se ele for elevado a essa função, claro, ficaremos muito felizes. Mas é o Espírito Santo quem vai conduzir.

O senhor e os outros quatro cardeais brasileiros votantes almoçaram juntos.

Chegaram a identificar um nome forte entre os papabili?

Não, não falamos em nomes. Falamos sobre o perfil, expressamos um pouco o perfil que desejamos para o novo papa.

E que perfil seria esse?

Primeiramente, um homem pastoral. Mais ágil e, além disso, um homem que conheça a organização da Igreja Católica e os desafios que se apresentam.

Que desafios, por exemplo?

O papa não governa a Igreja sozinho. Cada vez mais é preciso incentivar o espírito colegial. O papa é, sim, a autoridade máxima, mas a Igreja somos todos nós.

Existe alguma chance de o novo papa não ir ao Rio de Janeiro em julho para a Jornada Mundial da Juventude?

Não, esperamos que não. Até porque Bento XVI disse que, se não fosse ele, o próximo papa estaria lá conosco. O que deve acontecer são mudanças na programação. Antes, as atividades com o papa estavam reduzidas, era coisa simples. Com o novo pontífice — mais jovem, talvez — poderemos ter alterações.

Quando começará o conclave?

É difícil dizer. Somente quando todos os cardeais estiverem em Roma poderemos decidir. Na segunda-feira (amanhã), começarão as congregações (reuniões de preparação para o conclave) e poderemos ter uma ideia melhor. Mas, penso eu, que talvez pelo dia 11. Rezem por nós e um abraço a todo o pessoal de Brasília.