Título: À procura do papa
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 03/03/2013, Mundo, p. 20

CARDEAIS COMEÇAM AMANHÃ A BUSCAR O PERFIL DO OCUPANTE DO TRONO DE SÃO PEDRO, EM REUNIÕES PRÉVIAS. NOME DE BRASILEIRO GANHA FORÇA

Oficialmente, não se espera que os 207 cardeais convocados para o conclave antecipem voto ou mesmo sinalizem candidatos. Salvo uma ou outra exceção, quem fizer declarações até o início da votação se esforçará para atribuir ao Espírito Santo a eleição do novo pontífice. A partir de hoje, no entanto, quando a maioria dos votantes chega a Roma, é certo que, em conversas e em encontros reservados, os membros da cúpula da Igreja Católica fecharão um perfil desejado para o novo líder e nomes fortes começarão a se consolidar. De acordo com o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, 141 cardeais se encontram na capital italiana — 75 vivem na cidade e 66 desembarcaram nos últimos dias. Até ontem, a Capela Sistina, onde os religiosos se trancarão para o conclave, permanecia aberta à visitação de turistas.

Embora seja quase leviano encarar o conclave como uma votação política comum — a história mostra fazer muito sentido a tese de que "quem entra papa sai cardeal" —, esta é a hora em que grupos são formados, "bancadas" de países ou mesmo continentes se unem em torno de um candidato, e até campanhas, mesmo que de maneira discreta, acabam sendo feitas em favor de determinadas correntes.

A data para que os cardeais votem e tentem chegar a um consenso ainda não está definida. No entanto, a partir de amanhã, as Congregações Gerais, como são chamadas as reuniões pré-conclave, serão decisivas. No Vaticano, há quem acredite que a fumaça, branca ou escura, saia da chaminé pela primeira vez já na sexta-feira. Outros, como o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e um dos papabili, dom Raymundo Damasceno Assis (leia a entrevista), apostam em 11 de março como a data mais provável.

Para a italiana Franca Giansoldati, vaticanista do jornal Il Messaggero, o escolhido no conclave terá que ser um cardeal capaz de reformar a Cúria Romana. "Ele precisa levar a palavra de Deus para as pessoas, dar a evidência direta de um cristianismo encarnado", explicou, em entrevista ao Correio, por e-mail. "A nova evangelização é a maior preocupação do Colégio Cardinalício hoje." Em seu site, o jornal La Stampa garantiu ontem que as chances do brasileiro dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, aumentaram nas últimas horas. Os cardeais Angelo Sodano, decano do colégio, e o italiano Giovanni Baattista Re, estariam impulsionando o nome de Scherer para o trono de São Pedro. Ao lado de um papa brasileiro, eles gostariam de ver um italiano ou um argentino de origem italiana à frente da Secretaria de Estado do Vaticano.

"Eu creio que dom Odilo Scherer seja um dos candidatos principais ao papado. É um homem de profunda fé, de boa doutrina sólida, que tem demonstrado qualidades ao governar sua diocese", admitiu à reportagem o vaticanista Marco Tosatti, do jornal La Stampa. "Seu nome circula amplamente pelo Vaticano." Também cotado nos bastidores, o cardeal norte-americano Timothy Dolan, arcebispo de Nova York, reagiu com polêmica aos rumores. Questionado pela jornalista Christiane Amanpour, da rede de tevê CNN, sobre o fato de ser um dos cotados para o cargo de pontífice, ele respondeu: "As pessoas que dizem isso devem estar bebendo muito conhaque ou fumando maconha".

Continua a fazer frio em Roma. Ontem pela manhã, uma chuva fina caiu sobre o Vaticano. Acostumados ou não à baixa temperatura, que tem girado em torno dos 8 graus Celsius, os cardeais estrangeiros consideram cansativa uma longa estadia na cidade e prometem pressionar para que os trabalhos avancem rapidamente. Com a Sede Vacante, o nome de Bento XVI foi retirado da oração eucarística, e o Anel do Pescador usado pelo agora papa emérito, entregue à Santa Sé pelo agora papa emérito (Leia abaixo).

Anel do Pescador é devolvido

O papa Bento XVI devolveu ao Vaticano o Anel do Pescador — símbolo do poder pontifício. A informação foi confirmada ontem pelo padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé. O anel e o selo de chumbo usado em documentos oficiais foram entregues à Secretaria de Estado e repassados à Câmara Apostólica. A entidade, presidida pelo camerlengo, Tarcisio Bertone, terá a missão de destruir as peças. Uma letra "X" foi gravada no anel, a fim de impedir qualquer falsificação, durante a transição na Igreja.