Título: Um agrado ao PMDB
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 02/03/2013, Política, p. 2

Dilma participa hoje da convenção nacional peemedebista para reforçar a parceria com o PT, apesar do racha na aliança no Rio de Janeiro

A presidente Dilma Rousseff encerra hoje, na convenção nacional do PMDB, no Centro de Convenções Brasil XXI, a semana na qual deixou claro que o partido estará ao seu lado na chapa presidencial de 2014. Dilma chegará ao local do evento por volta das 11h e deverá celebrar a parceria com o principal aliado em seus dois primeiros anos de mandato. O presidente do PT, Rui Falcão, também participa da festa — que elegerá o vice-presidente Michel Temer para presidir o partido por dois anos — e será portador de uma carta de Luiz Inácio Lula da Silva ressaltando a importância da parceria.

Em uma semana em que foi intensa a movimentação dos principais presidenciáveis de 2014, Dilma abriu um espaço privilegiado para o PMDB em sua agenda. Ontem, véspera da convenção, esteve em Itaguaí (RJ) na inauguração da Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (Ufem) da Marinha, ao lado do governador Sérgio Cabral e do vice-governador Luiz Fernando Pezão. Esse último será o candidato do PMDB à sucessão de Cabral, em uma disputa com o PT do senador Lindbergh Farias.

Dilma foi extremamente carinhosa com o vice-governador do Rio, citando-o duas vezes no discurso, sempre com a alcunha de “meu querido Pezão”. “Com a recuperação da Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados, empresa vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia), foi possível construir aqui em Itaguaí com toda a infraestrutura, com mãos e cérebros brasileiros, com a ajuda do governo do estado, com Cabral e Pezão, todo esse empreendimento, que é fundamental para a defesa do país”, disse Dilma Rousseff. A Ufem terá capacidade para construir o primeiro submarino nuclear brasileiro.

O PMDB está realmente disposto a não constranger Dilma no evento de hoje. Por isso, a moção assinada pelo presidente do diretório fluminense do PMDB, Jorge Piciani (RJ), criticando as movimentações do PT do Rio de Janeiro, só será lida na parte da tarde, quando a presidente já tiver deixado o local do evento. A nota oficial afirma que, se o PT insistir em lançar a candidatura do senador Lindbergh Farias para o governo estadual, não haverá garantias quanto à presença do PMDB local no palanque da presidente em 2014.

A redação da nota contou com o apoio do governador do Rio, Sérgio Cabral, do prefeito da capital, Eduardo Paes, e foi comunicada ao próprio Temer. Para não contaminar o evento nacional com questões locais, a organização da convenção deixou reservado para o fim da tarde todas as moções e notas dos diretórios estaduais. “O clima é de paz e de tranquilidade. Reduzimos também o estoque de pimenta e azeite de dendê da filial baiana do PMDB”, provocou um integrante da cúpula partidária.

Cautela

O PT do Rio, entretanto, elevou o tom. Enquanto a presidente participava da cerimônia com Pezão e Cabral, Lindbergh organizava uma caravana por Japeri, na baixada fluminense, e assegurou que disputará o governo estadual no ano que vem. Para evitar constrangimentos para a presidente, ele pediu ao ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que comunicasse sua ausência em Itaguaí. E garantiu que Lula, ao contrário do que espera Cabral, não vai interferir na decisão do PT do Rio de ter candidato próprio. “Sabe qual é a chance de o Lula pedir para eu tirar a minha candidatura? É zero!” reforçou.

O que mais irritou os peemedebistas fluminense foi o fato de o PT criticar um governo do qual faz parte. Por isso, Lindbergh adiantou que conversará com o partido para analisar a entrega dos cargos que ocupa no governo de Sérgio Cabral. “Vamos discutir isso (a entrega dos cargos) dentro do partido e saber como vai evoluir toda essa crise”, disse ele. No primeiro escalão do governo Cabral, o PT ocupa a pasta da Secretaria de Meio Ambiente, com Carlos Minc, e a Secretaria de Assistência Social, com Zaqueu Teixeira.

Alheio às crises locais, o PMDB nacional quer celebrar o bom momento vivido pelo partido. Praticamente confirmado na chapa de Dilma e ocupando as presidências da Câmara, com Henrique Alves (PMDB-RN), e do Senado, com Renan Calheiros (PMDB-AL), o partido é cauteloso até mesmo na reivindicação por mais espaços na administração federal.

Na semana que passou, especulou-se a possibilidade do PMDB de Minas — mais precisamente o deputado federal Leonardo Quintão — assumir o Ministério dos Transportes. O Correio apurou que os próprios peemedebistas acham utópica essa ideia e já teriam sido sondados para ocupar a Secretária Nacional de Aviação Civil, no lugar do ex-diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) Wagner Bittencourt.

Entusiasta da entrada do PMDB mineiro na Esplanada, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, defende apenas que o escolhido seja o presidente estadual do PMDB, Antonio Andrade, e não Quintão. Teme que deputado federal seja candidato ao governo de Minas em 2014, cargo que deverá ser disputado por Pimentel. Mas o parlamentar mineiro já avisou à cúpula do PMDB que, se for convidado a assumir um ministério, abre mão de disputar cargos eletivos no ano que vem.

Ontem, em Brasília, o filho do governador Sérgio Cabral, Marco Antônio Cabral, elegeu-se presidente do PMDB jovem. No evento, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL) foi saudado com o mesmo grito de guerra dos petistas. “O Renan é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo.”

Análise da notícia Opção pelo pragmatismo

Ao optar por manter a parceria firmada com o PMDB em 2010, a presidente Dilma Rousseff e o PT escolheram trilhar o caminho do pragmatismo. Permanecem ao lado de um partido gigante, o que garante tempo de televisão no horário eleitoral e votos nos projetos que interessam ao Planalto no Congresso Nacional.

Além disso, apesar dos queixumes, suspeitas de traição e intrigas, não dá para dizer que o PMDB tenha se comportado mal ao longo dos últimos dois anos. Na única vez aguda que tentou contrariar o governo — não reconduzindo Bernardo Figueiredo para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) —, Dilma agiu rápido, defenestrou Romero Jucá (PMDB-RR) da liderança do governo no Senado e colocou em seu lugar um antigo dissidente do partido, o senador Eduardo Braga (AM).

O PMDB, agora, está mais gigante do que nunca. Comanda as duas Casas do Congresso, com Renan Calheiros (Senado) e Henrique Eduardo Alves (Câmara). Tem um líder na Câmara — Eduardo Cunha (RJ) — que já deu, em um passado recente, provas cabais da capacidade de provocar estragos ao sentar sobre o relatório de prorrogação da CPMF, em 2007. Embora não seja o parceiro dos sonhos, Dilma e Lula optaram por não provocar o PMDB.