Valor econômico, v. 21, n. 5115, 27/10/2020. Brasil, p. A6

 

Restaurantes reduzem perdas da pandemia, mas retomada é lenta

Hugo Passarelli

27/10/2020

 

 

Queda em setembro foi a menor desde março, mês do início da quarentena, aponta pesquisa

Ajudado pela flexibilização das atividades presenciais após o primeiro choque da covid-19, o consumo em restaurantes continuou a se recuperar em setembro. Mas as quedas ainda são expressivas no volume de transações e no valor gasto pelos consumidores em relação ao mesmo período do ano passado, o que confirma o quadro de lenta recuperação do segmento e sugere mesma trajetória para outros serviços similares ao longo dos próximos meses.

O Índice de Consumo em Restaurantes (ICR), elaborado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e a bandeira de benefícios Alelo, registrou baixa de 25,7% no valor total gasto em setembro na comparação com igual mês de 2019. Foi a menor retração desde março, mês de início da quarentena e quando o indicador caiu 23,4%. No pior momento, em abril, a queda chegou a quase 50%.

Já o volume de transações em restaurantes registrou recuo de 45,6% em relação ao mesmo mês de 2019, depois de chegar a uma baixa de mais de 63% em abril. Por outro lado, o número de estabelecimentos comerciais que efetivaram transações em setembro de 2020 foi apenas 2,9% inferior ao registrado no mesmo mês de 2019.

“Os segmentos dos serviços que envolvem maior aglomeração de pessoas vão ainda levar tempo para se recuperar. Apesar da sensação de que os lugares estão mais cheios, muitas vezes há menos mesas. Ao mesmo tempo, é possível estimar que as pessoas que vão a esses estabelecimentos estejam gastando menos”, diz Eduardo Zylberstajn, chefe de pesquisa e inovação da Fipe.

“Mesmo que os resultados ainda estejam menores em relação ao período anterior à pandemia, se colocarmos em perspectiva os valores registrados em seu início, perceberemos o impacto positivo da reabertura e retomada das atividades”, afirma Cesario Nakamura, presidente da Alelo.

A situação é diferente de setores como a indústria, em que a retomada foi mais rápida após um período de adaptação, nota o pesquisador da Fipe. “Nos serviços ligados a alimentação e turismo, é um problema de demanda e até uma mudança, mesmo que passageira, de preferência dos consumidores, que estão fazendo as refeições em casa”, afirma.

Mesmo com a volta mais forte das atividades presenciais a partir do ano que vem, para quando se espera a produção em larga escala de vacinas contra o novo coronavírus, o nível de atividade desses estabelecimentos deve manter-se em um patamar mais abaixo ao pré-crise. “É possível que as empresas adotem ao menos alguns dias de home office, isso vai mudar o desenhos dos escritórios e a necessidade de espaço. Isso deve diminuir o fluxo de pessoas nos grandes centros comerciais”, afirma Zylberstajn.

Pelas regiões do país, o impacto da pandemia ainda é sentido de forma heterogênea e está ligado aos processos locais de abertura e fechamento da economia, assim como a interiorização do vírus. Pelo valor gasto, as regiões Sudeste (-26%) e a Sul (-25,5%) foram as que registraram maior queda no consumo de restaurantes em setembro, sempre ante o ano anterior, seguidas por Nordeste (-24,1%), Centro-Oeste (-23,9%) e Norte (-19,1%).

Já o consumo em supermercados teve alta de 1,3% no valor total gasto no mês, em comparação a setembro de 2019, abaixo dos aumentos ao redor de 5% observados no pico da pandemia. Nesse caso, pode ter ocorrido acomodação da procura dos consumidores por itens básicos a partir da flexibilização da quarentena.

Houve crescimento similar no número de supermercados que realizaram transações utilizando como meio de pagamento o benefício alimentação no período (+1,2%). Por outro lado, os dados de setembro de 2020 ainda sustentam uma queda de 12% no volume de transações.