Título: Gastos públicos avançam 3,2%
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Fonte: Correio Braziliense, 02/03/2013, Economia, p. 10

Os gastos do setor público foram recordes em 2012. Na tentativa de salvar o crescimento econômico do país no ano, o Ministério da Fazenda abriu os cofres públicos. As despesas chegaram a 21,5% do PIB — o maior valor já registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda assim, a atividade não reagiu a contento, e as previsões de expansão dela, que, no início de 2012, chegavam a 4%, desabaram frente à realidade. Para 2013, a expectativa é de que esses gastos se intensifiquem com a possibilidade de o governo abandonar oficialmente a meta de superavit primário (economia para pagar os juros da dívida).

Em todo o ano passado, as despesas públicas chegaram a R$ 944,54 bilhões, o que representa uma alta de 3,2% frente a 2011. A variação foi superior ao consumo das famílias, de 3,1%. Os dois itens contrastam fortemente com a taxa de investimentos, que caiu 4% no período. Especialistas alertam que, apesar do aumento dos gastos do Poder Público, eles incluem apenas o custeio de remuneração de pessoal e desembolsos correntes, mas não obras públicas, que são contadas como investimentos.

Para 2013, o governo promete gastar melhor que no ano passado. Pretende estimular os investimentos, sobretudo em infraestrutura, além de desonerar a cesta básica. Na visão de analistas, o Estado tem fôlego para impulsionar a economia, principalmente se abrir mão da economia para pagar os juros da dívida pública. “Se considerarmos dois ou três anos adiante, um superavit primário menor é possível. Mas não dá para estender (essa política) muito além disso. Pode ser perigoso para o país”, ponderou Vagner Alves, economista da gestora de recursos Franklin Templeton.

Impacto Na avaliação dos economistas, os gastos públicos, se direcionados para os investimentos, terão reflexo positivo sobre o crescimento do país em 2013 e nos próximos anos. "Caso os investimentos do PAC e de outros programas relacionados a infraestrutura e aos megaeventos que o Brasil vai sediar deslanchem, certamente, impactarão o PIB positivamente", observou Marcos Troyjo, professor de economia e co-director do BRICLab, na Universidade de Columbia, em Nova York. “Resta saber se as derrapadas do governo, como no controle inflacionário, na gestão das estatais, na modalidade das concessões e no ziguezague das regras do jogo no setor energético, não apagarão tais influências positivas”, alertou.

Poupança Alexandre Schwartsman, economista e ex-diretor do Banco Central (BC), lembra que, se o setor público tem despesas em excesso, a poupança pública, que seria fundamental para melhorar o nível de investimento no país, cai. Em 2012, diante de tantos gastos públicos e da dificuldade do cidadão em guardar dinheiro, a reserva do país despencou para o menor nível dos últimos 10 anos, 14,8% do PIB. “O ideal seria aumentar a taxa de poupança, preferencialmente pela redução do consumo do governo. Porém, como proporção do PIB, em 2012, o país registrou o maior percentual de gastos da série do IBGE. Claramente, há uma distorção nessa história”, ressaltou Schwartsman. (VM e PSP)

R$ 944,5 bilhões Soma dos dispêndios do governo em 2012