Título: Juros não vão subir
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 02/03/2013, Economia, p. 11

O mercado já não acredita no aumento dos juros a partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. As apostas nesse sentido esfriaram diante do fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que cresceu apenas 0,9% em 2012, conforme os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem. Antes, a previsão era de que a taxa básica de juros (Selic), hoje em 7,25% ao ano, subisse devido ao repique da inflação que, anualizada, saltou para 6,2% em janeiro, ficando perto do teto da meta do governo, de 6,5% ao ano.

“Com o resultado do PIB, o BC deve jogar a toalha e aumentar a Selic em um ponto percentual, mas a partir da reunião de abril, sendo duas altas de 0,5 ponto percentual, finalizando o ano em 8,25%”, calculou o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Essa previsão, informou o especialista, será mantida “se a inflação ficar sistematicamente próxima de 6% nos próximos meses”.

Apostas Comunicado do presidente do BC, Alexandre Tombini, logo após a divulgação do PIB, também sinalizou que os juros deverão permanecer no patamar atual porque, segundo ele, o governo acredita no crescimento da economia. Para Tombini, houve uma “gradual” recuperação da atividade econômica no segundo semestre de 2012. Ele destacou que os estímulos do Executivo impulsionaram a retomada de 0,5% dos investimentos no quarto trimestre, após cinco trimestres de queda.

“Os membros do Copom deverão esperar mais para sinalizar qualquer mudança na estratégia atual de manter a Selic inalterada”, afirmou o economista-chefe do BES Investimento do Brasil, Jankiel Santos. A mesma opinião é compartilhada pelo economista da Corretora Planner, Demetrius Lucindo. “Com o PIB abaixo das expectativas, as apostas de alta nos juros a curto prazo ficaram menos evidentes, mas isso não quer dizer que eles não vão subir se a inflação sair do controle”, explicou.

O professor de economia do Insper, João Luiz Máscolo, acha difícil que o BC suba os juros porque o espaço para um aumento agora é muito pequeno. “A alta esperada é de apenas um ponto percentual, não sei se será suficiente para conter a inflação. Se a Selic atingir patamar acima de 8,5%, as regras da poupança mudam novamente e isso representará um ônus político maior do que o da inflação”, afirmou. No entanto, o professor demonstrou preocupação com o câmbio, que segundo ele continuará sendo usado pelo governo como instrumento para conter a inflação. “O dólar baixo terá um impacto ainda maior nas contas externas no país. A previsão do BC de deficit de US$ 65 bilhões na conta-corrente neste ano deverá ser revista, pois foi de US$ 11 bilhões somente em janeiro”, afirmou ele lembrando que a balança comercial (divulgada ontem) já acumula um deficit de US$ 5,3 bilhões nos dois primeiros meses do ano.