Título: Brasília bate recorde histórico de apagões
Autor: Vasconcelos, Bárbara
Fonte: Correio Braziliense, 08/03/2013, Cidades, p. 23

Embora abrigue a capital da República, o Distrito Federal sofre com a precariedade de um serviço básico. O DF conta com um dos piores índices relacionados ao fornecimento de energia. Apenas no ano passado, cada brasiliense ficou, em média, 20 horas às escuras — número acima da média nacional, estimada em aproximadamente 18 horas e meia; e também superior ao teto previsto para a região, calculado em pouco mais de 12 horas.

Além disso, enquanto o Brasil registrou uma queda na quantidade de apagões, Brasília viu essa estatística subir: ao longo de 2012, foram cerca de 18 episódios de desabastecimento, frente a 13 verificados no ano anterior. Esse foi o pior desempenho da Companhia Energética de Brasília (CEB) desde 2000, quando surgiram os indicadores. Os dados são da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que já em 2011 havia classificado a CEB como uma das empresas brasileiras de pior desempenho. No ranking mais recente da autarquia, a operadora candanga ocupou o 27° lugar, entre as 33 empresas de grande porte do Brasil.

Devido a todos esses problemas, a companhia responsável por atender mais de 887 mil consumidores precisou desembolsar R$ 9.339.341,08 em compensações no ano passado. O valor é resultado de quase 2,5 milhões de multas pagas a usuários devido a interrupções no abastecimento. O montante acumulado por todas as concessionárias do país chegou a R$ 415,38 milhões, em 2012. O diretor de Operações da CEB, Manoel Clementino, reconhece a precariedade do serviço. Ele alega, no entanto, que o problema é decorrente de administrações anteriores e diz trabalhar para reverter o quadro atual. “Esse desempenho não é o que a gente quer, nem que o consumidor de Brasília merece, mas é fruto de uma década com patamar de investimento baixo”, comenta. Ele alega ter recebido a concessionária com dívidas em torno de R$ 800 milhões, em 2011, o que prejudicou as atividades da empresa nos últimos anos. Mas promete aplicar R$ 200 milhões, até dezembro, na ampliação da rede (leia ilustração). “Fizemos uma série de ações, só que elas ainda não surtiram efeito. Esse é um trabalho a longo prazo”, emenda.

Sobrecarga

As regiões mais críticas são Ceilândia, Samambaia, Brazlândia, São Sebastião, Lago Sul e Lago Norte, segundo a própria CEB. Além da falta de investimento na ampliação da rede, a companhia aponta como complicadores nessas áreas o grande número de ligações clandestinas e o crescimento desordenado. Tudo isso sobrecarrega o sistema e intensifica as quedas no fornecimento.

Mas os problemas não estão restritos a esses espaços. Na tarde da última quarta-feira, a companhia recebeu 392 reclamações por queda de energia, a maioria de moradores de Taguatinga. O número é o dobro da média diária considerada normal pela instituição. Uma forte chuva deixou as QNLs ímpares, de 1 a 25, às escuras, bem como as quadras de C1 a C12. Até o depoimento do bicheiro Carlinhos Cachoeira teve que ser cancelado por falta de luz na Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deco) da Polícia Civil, localizada na mesma cidade. Os apagões prejudicaram ainda os embarques e desembarques no Aeroporto Internacional de Brasília durante o último fim de semana. Um pico de energia no sábado danificou os sistemas elétricos e atrapalhou as atividades das companhias aéreas.

O morador de Sobradinho Sued Souza, 41 anos, conta que teve prejuízos com os problemas no fornecimento de energia. Uma chuva em dezembro provocou forte pico de energia na casa onde o corretor de imóveis mora e queimou o computador que estava ligado na tomada. O conserto do aparelho custou cerca de R$ 400. Apesar de várias tentativas, ele ainda não conseguiu ser ressarcido pela companhia. “Já abri dois protocolos, mas não tive nenhum retorno”, reclama. “Aqui, é comum esses picos de energia, apagões. Às vezes, ficamos até o dia todo sem energia”, completa.

Para Rafael Shayani, professor de engenharia elétrica da Universidade de Brasília (UnB), a frequência de apagões no DF está relacionada à falta de investimento pela CEB nos últimos anos. “O esperado é que se invista mais, que se encareça a conta, mas que se forneça o serviço adequado”, ressalta.

Sem multa Desde 2010, a Aneel não multa as operadoras que extrapolam teto de horas sem luz nos diferentes estados. Em vez das notificações, o órgão passou a obrigar as empresas a ressarcirem o consumidor, mês a mês, por meio de descontos na conta de luz. Os valores pagos são conhecidos por compensações de continuidade.