Título: Manifestantes pedem saída de pastor e Renan
Autor: Colares, Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2013, Política, p. 4

Em Brasília, estudantes eram maioria na passeata que terminou no gramado do Congresso

Eles não eram muitos, mas conseguiram chamar a atenção. Cerca de 60 pessoas participaram de duas manifestações — uma contra a condução do senador Renan Calheiros (PMDB-RN) ao cargo de presidente do Senado, e outra, contra a entrega da presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara ao deputado pastor Marco Feliciano (PSC-SP) —, que se encontraram na rodoviária do Plano Piloto, adaptaram os gritos de guerra e seguiram juntas até o Congresso Nacional.

Carregando cartazes e entoando palavras de ordem como “Fora Renan, fora Feliciano”, os manifestantes protestaram pacificamente por mais de duas horas e terminaram o ato de repúdio aos dois políticos estendendo uma grande bandeira do Brasil com a foto do presidente do Senado no gramado em frente ao Congresso. O sábado foi de manifestações em todo o país, especialmente contra Marco Feliciano, o pastor que publicou no Twitter que os negros “são descendentes de ancestral amaldiçoado por Noé” e que relacionamentos entre homossexuais são “práticas promíscuas” que deveriam ser abominadas. Ele foi chancelado presidente da CDHM na última quinta-feira.

O número de ativistas nas ruas ficou bem aquém das confirmações de presença no Facebook. Até as 14h, horário marcado para o início da manifestação, 1.550 pessoas haviam confirmado presença no ato. Quem participou, bem que tentou juntar mais gente. Aproveitando a concentração de pessoas na rodoviária, os manifestantes, a maioria jovens, emendaram um “ôh, cidadão, venha pra rua, essa luta também é sua”. Não surtiu muito efeito. Mas não atrapalhou o principal objetivo da manifestação, que foi o de mostrar a insatisfação de uma parcela da sociedade em relação às práticas políticas de negociação de cargos.

“O movimento que ajudou a tirar um presidente da República (Fernando Collor, em 1992) começou com pouca gente na rua. Mas o pouco que está aqui é suficiente para o Brasil ver. O pouco que está aqui, não está calado”, disse Jonatas Leroy, do Movimento pelo Povo. A bandeira do Brasil carregada pelos manifestantes fazia referência as 1,6 milhão de assinaturas coletadas em uma petição online que pedia a saída do peemedebista do cargo de presidente do Senado.

Os cartazes carregados por jovens de cara limpa, pintada ou com nariz de palhaço estampavam os desejos de quem enfrentou o sol e o calor de 31º Celsius para mostrar indignação. “Liberdade de expressão é diferente de opressão”, “Eu tenho fé nos direitos humanos. Fora Feliciano” e “Todos contra a corrupção” foram algumas das frases escritas em pedaços de pano e de cartolina.

“O que fica é um sentimento de indignação, de traição. A escolha (do presidente da Comissão de Direitos Humanos) tem que ser por mérito, por comprometimento com causas sociais e humanitárias. O que se vê é um conjunto de articulações de conservadores latifundiários e fundamentalistas”, disse o estudante e presidente da Associação de Pós-graduados da Universidade de Brasília, Fábio Borges, que protestava contra o deputado Marco Feliciano.

Uma nova manifestação, na terça-feira, está sendo convocada pelas redes sociais.

“O pouco que está aqui é suficiente para o Brasil ver. O pouco que está aqui não está calado” Jonatas Leroy, um dos organizadores do Movimento pelo Povo

“O que fica é um sentimento de indignação, de traição. O que se vê é um conjunto de articulações de conservadores latifundiários e fundamentalistas” Fábio Borges, presidente da Associação de Pós-Graduados da UnB