Título: Dom odilo é pop
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 11/03/2013, Mundo, p. 12
Ele jamais reconheceria, mas dom Odilo Scherer, enfim, assumiu ontem pela manhã a condição de nome forte para suceder Bento XVI. Candidato? Nem pensar. O termo é exorcizado por ele. Mas o arcebispo de São Paulo não conseguiu ignorar as dezenas de câmeras e microfones de jornalistas do mundo inteiro que lotaram um pequenino templo de estilo barroco próximo ao Palácio Quirinale, em Roma. O cardeal lembrou que a Igreja passa por um momento difícil e pediu orações, mas estava visivelmente animado. “Tanto jornalista pra participar da missa. Que maravilha”, repetia.
Mesmo sem perder o jeitão sério, o descendente de alemão de 63 anos distribuiu sorrisos, cumprimentos, hóstias e bênçãos. Em troca, recebeu flashes, aplausos e incentivo dos poucos fiéis que participaram da celebração. “Se ele for papa, vamos rezar muito”, dizia a religiosa brasileira Maria Salete de Oliveira, 64 anos, uma das primeiras na fila da comunhão. Ela e mais duas freiras carmelitas acordaram cedo e viajaram uma hora somente para ver dom Odilo. A imprensa italiana sinaliza que as chances de o desejo de Maria Salete ser atendido é considerável: ele já teria 30 dos 77 votos necessários para a eleição.
Todos que ali estavam queriam vê-lo. Cinegrafistas bateram boca na disputa pelo melhor ângulo. No empurra-empurra, quase caíram perto do altar, enquanto o cardeal tentava chegar à sacristia. Às 10h32, após deixar a igreja pela porta dos fundos, o sino tocou, o cântico arrastado começou e dom Odilo entrou em procissão pelo corredor central do templo, com veste roxa e mitra na cabeça. Começava, na Igreja Santo André de Quirinale, uma das missas mais disputadas da vida do padre gaúcho, ordenado 37 anos atrás.
Após incensar o altar e puxar o sinal da cruz, o cardeal saudou os presentes, incluindo o embaixador brasileiro na Santa Sé, Almir Franco. Foi o único momento em que falou em português. O rito tradicional da missa, toda rezada em italiano por dom Odilo (que morou oito anos em Roma), só engatou depois de ele pedir que se rezasse pela Igreja, em “tempos de dificuldades, mas também de muita alegria”. “Convido a orar para a Igreja fazer bem sua missão nesse tempo. Seguramente, um tempo difícil, mas também alegre”, disse.Tranquilo e visivelmente animado, chegou a dizer que era um dia de “vibração e festa”.
Sem entrelinhas Os 22 minutos de homilia foram acompanhados atentamente por um rebanho atípico. O silêncio dos jornalistas com gravadores ao alto só era interrompido pelos cliques das máquinas a cada gesto mais bruto do cardeal. Nas entrelinhas dos comentários sobre as leituras bíblicas, esperava-se alguma associação com a tal “candidatura”. Dom Odilo não titubeou e aproveitou que era o centro das atenções para pregar. Falou do amor de Deus, de perdão, de misericórdia. E só.
A palavra conclave voltou a ser mencionada apenas nas preces dos fiéis: um momento padronizado da missa. Em um texto lido ontem nas celebrações católicas de todo o mundo, clamou-se ao Espírito Santo para iluminar a escolha do novo papa. Na distribuição das hóstias, um sacerdote italiano se prontificou a ajudar dom Odilo, mas somente um ou outro topou comungar de mãos que não as do homem cotado para ser papa.
Antes de concluir a cerimônia, o cardeal brasileiro ainda abençoou um casal de itaianos que completava 70 anos de casado. “Eu não tinha nem nascido”, brincou. Com o último amém, começou um novo tumulto ao redor de dom Odilo. Às pressas, voltou à sacristia e, de lá, pela garagem da igreja, entrou em uma van com vidros escuros. A uma repórter que perguntou se ele era o papável favorito, o cardeal respondeu: “A missa foi muito bonita, não?”. Quando os jornalistas brasileiros provocaram, para que falasse algo em português, dom Odilo limitou-se a dizer: “Tchau, tenham um bom domingo”.
Titular Todo cardeal, quando nomeado pelo papa, “apadrinha” uma das igrejas de Roma. Ganha uma “igreja titular”, apesar de não exercer nela função alguma. É um gesto simbólico, para representar que cada “príncipe da Igreja” colabora diretamente com o sumo pontífice e auxilia a Santa Sé no desenvolvimento de atividades pastorais.
"Convido a orar para a Igreja fazer bem sua missão nesse tempo seguramente difícil, mas também alegre’’
Dom Odilo Scherer, arcepispo de São Paulo
A dois dias do início do conclave, um representante da bancada brasileira no colégio de cardeais admitiu pela primeira vez publicamente a força do nome de dom Odilo Scherer entre os possíveis sucessores de Bento XVI. “Eu diria que faz mais do que sentido”, afirmou em entrevista ao Correio, no fim da tarde de ontem, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno Assis.
Embora faça questão de enfatizar o caráter espiritual e, portanto, inesperado da votação secreta, o arcebispo de Aparecida defende terem fundamento as apostas em torno de uma possível eleição do amigo. Pouco antes de celebrar uma missa na Igreja da Imaculada Conceição e São João Berchmans, em Roma, dom Damasceno também disse acreditar que o novo papa será conhecido no terceiro ou no quarto dia de conclave. (DA)
Teremos papa na terça ou na quarta? Creio que não. É a minha opinião, quero deixar claro: não acredito que haja consenso nem no primeiro nem no segundo dia. Mas durante a semana sai. Não será um conclave longo, mas também não será algo muito rápido.
Então, no próximo domingo, já teremos Angelus com novo papa? Não sei se dará tempo de preparar tudo, mas é possível, sim, que até lá o novo papa já tenha sido apresentado na varanda do Palácio Apostólico e reze o Angelus ou celebre a primeira missa.
O Brasil está ansioso, dom Damasceno. Faz sentido mesmo a candidatura de dom Odilo? Sentido há. Eu diria que faz mais do que sentido. Não me parece ser um nome de consenso, mas faz mais do que sentido. Só que é preciso levar em conta que o conclave tem suas surpresas. É um processo que, para nós, não deixa de ter a ação do Espírito Santo. E o Espírito Santo não está condicionado aos palpites da mídia.
O nome de Angelo Scola (italiano, arcebispo de Milão) é o mais forte? É um nome que também faz sentido, mas não diria que é o mais forte.
Qual o nome mais forte? É difícil dizer. São grupos (de cardeais) muito diferentes, de realidades muito diferentes. Nas Congregações Gerais, discutimos, falamos sobre isso, mas na hora do conclave é o Espírito Santo que sopra onde quer. Não tem como prever nada.