Valor econômico, v. 21, n. 5118, 30/10/2020. Política, p. A15

 

Bolsonaro provoca Dino no Maranhão

Matheus Schuch

Malu Delgado

30/10/2020

 

 

Presidente faz piada homofóbica com guaraná jesus, bebida cor de rosa tradicional no Maranhão, e promete acabar com o “comunismo tradicional”

O presidente Jair Bolsonaro pela primeira vez como chefe do Executivo, esteve no Maranhão, em agenda com tom eleitoral. O presidente levou parlamentares para o roteiro, foi recebido por centenas de pessoas em diferentes pontos do Estado, causando aglomeração, e fez discursos provocando o governador Flávio Dino (PCdoB), com promessas de acabar com o “comunismo ditatorial” no Maranhão.

Em São Luís, o pretexto da visita foi a inauguração de 3,7 quilômetros reformados na BR-135. No palco, além de Bolsonaro, discursaram os ministros da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, ambos elogiados pelo desempenho à frente de suas pastas pelo presidente. Principal cicerone das agendas no Nordeste, Marinho afirmou à plateia, na linha de outras manifestações, que o Nordeste “não é de nenhum partido” e que Bolsonaro irá “emancipá-lo”.

O presidente argumentou que está realizando mais obras com menos recursos porque não há notícia de corrupção no governo e em função do trabalho conjunto com parlamentares.

“A bancada do Maranhão é a que proporcionalmente mais tem direcionado recursos para o bem do seu Estado”, afirmou.

Além da recepção no aeroporto e nas ruas, onde houve aglomerações com poucas pessoas utilizando máscaras, Bolsonaro visitou comerciantes. Ao beber o guaraná Jesus, um refrigerante à base de canela, cor de rosa, popular no Maranhão, o presidente fez uma brincadeira homofóbica. “Agora virei boiola igual maranhense, é isso?”, afirmou, bebendo o refrigerante e despertando risos entre os populares.

Mais tarde, na cidade de Imperatriz, o presidente participou de cerimônia que celebrava outras obras, como a entrega do mercado popular conhecido como “Panelódromo”. Ainda acompanhado pelo grupo de parlamentares, o presidente foi recebido aos gritos de “mito” e “fora Flávio Dino”. No palco, dedicou maior parte do discurso a críticas indiretas ao governador. “Nós vamos em um curto espaço de tempo mandar embora o comunismo do Brasil. Não aceitamos este regime ditatorial onde o povo não tem vez”, bradou. “Nós somos a liberdade, aqueles que não têm medo da verdade.”

Flavio Dino afirmou que seu partido vai processar Bolsonaro. "Ele não tem nenhum limite de legalidade. Se acostumou e acha que é inimputável. O que ele fez aqui no Maranhão se chama propaganda política. Na jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral se chama propaganda eleitoral negativa, que é falar mal de uma outra corrente política", explicou Dino, que é ex-juiz federal e ex-professor de direito.

Segundo o governador, o cerimonial do Palácio do Planalto não convidou nenhuma autoridade do Estado para os eventos, tendo enviado apenas um pedido formal para que o governo estadual providenciasse um esquema de segurança. "Imagina se eu falasse em algum evento oficial aqui: não vamos votar em candidatos bolsonaristas. Eu posso fazer isso? Ele mistura as coisas. Não tem limite de legalidade", criticou Dino.

Para o governador, Bolsonaro inventa agendas artificiais em várias regiões para fazer propaganda política. "Ele veio aqui inaugurar 5 km de asfalto. Nada. Veio fazer campanha eleitoral, só isso. Juridicamente o PC do B vai representar contra ele em todos ministérios públicos que existem, eleitoral e federal", disse.