Valor econômico, v. 21, n. 5118, 30/10/2020. Internacional, p. A16

 

Nova onda da pandemia e lockdowns já ameaçam a recuperação global

Martin Crutsinger

30/10/2020

 

 

Se consumidores e empresas optarem - ou forem forçados - a se isolar novamente em resposta ao vírus, como fizeram no segundo trimestre, a queda nos gastos e nas contratações poderá tirar a recuperação dos trilhos

O ressurgimento dos casos de covid-19 nos EUA e na Europa ameaça a recuperação econômica nos dois lados do Atlântico, com milhões de indivíduos e empresas enfrentando a possibilidade de novo isolamento social.

O temor crescente de uma reversão econômica coincidiu com o anúncio de que a economia dos EUA cresceu a uma taxa anualizada recorde no terceiro trimestre. Mas a economia americana já está desacelerando em meio ao aumento de novos casos de covid-19 e do esgotamento da ajuda financeira do governo americano.

Se consumidores e empresas optarem - ou forem forçados - a se isolar novamente em resposta ao vírus, como fizeram no segundo trimestre, a queda nos gastos e nas contratações poderá tirar a recuperação dos trilhos. Nos EUA e na Europa, alguns governos já estão retomando restrições na tentativa de conter a disseminação do vírus.

A França entra hoje em “lockdown” nacional. Na Alemanha, bares, restaurantes e teatros ficarão fechados por quatro semanas.

Ontem, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, alertou que a economia da zona do euro está perdendo força mais rápido do que o esperado, com as mais recentes restrições devendo reduzir a produção no último trimestre do ano.

O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, disse que a atividade econômica na França pode cair 15% durante o novo lockdown.

“As medidas de lockdown deveriam ter vindo mais cedo”, disse Guntram Wolff, diretor do think tank Bruegel, com sede em Bruxelas. “Estamos agora partindo de níveis muito altos.”

Os governos europeus estão enfrentando as consequências econômicas da pandemia, que vem custando trilhões de euros. Se a França puder limitar a queda na atividade econômica a 15%, isso seria a metade da queda de 30% sofrida no primeiro lockdown do país, segundo Le Maire. O governo francês prometeu que haverá um apoio ainda mais forte do Estado neste novo lockdown.

O que não se sabe é se as pessoas estarão dispostas a obedecer as orientações do governo, ou se a resistência aos lockdowns e outras restrições surgida em partes dos EUA e da Europa vão enfraquecer o esforço de controlar a pandemia.