Título: Expansão contida
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2013, Economia, p. 12
O varejo virtual acompanhou a crise da economia e perdeu o fôlego em 2012, crescendo abaixo do ritmo de 26,5% de 2011. As vendas nominais estimadas pela empresa e-bit chegam a R$ 22,5 milhões, o que reflete uma expansão de 20% sobre o ano anterior. Para 2013, a entidade estima um ritmo maior de crescimento: 25% e um faturamento em torno de R$ 28 bilhões.
Dados de outra empresa de pesquisa sobre comércio on-line, a E-consulting indicam que o número de pessoas que compram pela internet cresceu 39% em 2012, somando 31,9 milhões e-consumidores, e poderá chegar a 37 milhões em 2013. Esse número, no entanto, equivale a menos da metade dos 84 milhões de internautas brasileiros.
O especialista em e-commerce e sócio da E-Consulting Daniel Domeneguetti avalia que o comércio eletrônico ainda é marginal, se comparado com as lojas físicas. “Pelos nossos cálculos, o varejo on-line, apesar da expansão que vem tendo há anos, responde por, no máximo, 5% do comércio tradicional. Em 2012, essa participação foi de 4,12%”, destaca. Ele cita um total de R$ 34,4 bilhões computados em 2012 pela E-consulting para o varejo pela internet. A variação em relação aos R$ 30,1 bilhões de 2011 é bem menor do que a registrada pela e-bit: de apenas 14,2%.
Domeneguetti recorda que o ritmo de crescimento do comércio eletrônico vem ficando aquém das expectativas desde o início da explosão da internet. “Houve aumento da inclusão, dos usuários da banda larga e de smartphones, mas o comércio virtual continua do tamanho de um pônei”, ressalta. As vendas estimadas pela Federeção do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio) para o varejo tradicional em 2012 somavam R$ 1,3 trilhão. Em 2011, foram R$ 1,15 trilhão. O varejo on-line representou 3% desse montante.
Desconfiança Um dos motivos desse desempenho ainda tímido está relacionado à falta de confiança do consumidor. Vale lembrar que, além das tentativas crescentes de fraude, atitudes de má-fé de lojas virtuais, como a que aconteceu na “Black Friday” brasileira, em 23 de novembro passado, prejudicaram a imagem do setor. A ação dos lojistas para atrair clientes copiando uma tradição norte-americana ficou conhecida como “Black Fraude”, já que o desconto prometido não existia, ocasionando várias reclamações de pessoas frustradas aos órgãos de defesa do consumidor.
Mas a desconfiança dos clientes e as ameaças de fraude não são os únicos motivos para que o varejo on-line não decole, na avaliação de Domeneguetti. “Isso, na verdade, tem a ver com o todo, porque é um processo histórico. O comércio eletrônico nunca teve um boom, mas um processo lento, gradual, evolutivo, uma vez que dependeu sempre de variáveis estruturantes, e isso vem acontecendo ao longo dos anos”, afirma ele, lembrando que o brasileiro ainda tem um baixo histórico de compras remotas, de acesso à internet e de busca de crédito.