Título: Últimos acertos para o conclave
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2013, Mundo, p. 16

A três dias do início do conclave, o Vaticano anunciou ontem os detalhes da reunião que escolherá o sucessor de Bento XVI, enquanto os 115 cardeais eleitores debateram a situação interna da Igreja Católica antes de se recolherem para a votação. Segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, a terça-feira começará com a grande missa Pro eligendo Romano Pontifice na Basílica de São Pedro, que poderá contar com a presença dos fiéis, assim como do corpo diplomático credenciado perante a Santa Sé. Durante a tarde, os cardeais eleitores se reunirão na Capela Paulina, de onde caminharão em procissão em direção à Capela Sistina, local da votação, cantando e orando para que o Espírito Santo os ilumine. Já na Capela Sistina, sob os magníficos afrescos de Michelangelo e depois de terem jurado manter silêncio sob pena de excomunhão, o mestre de cerimônias pronunciará o Extra omnes! (Fora todos!), ordenando que aqueles que não tiverem ligação com a eleição saiam da sala.

Os cardeais não poderão se comunicar com o exterior. Telefones e computadores são expressamente proibidos para evitar que os religiosos enviem mensagens eletrônicas ou alimentem suas contas nas redes sociais.

Se na terça-feira à tarde, após a primeira votação, nenhum cardeal obtiver os 77 votos necessários para se tornar o líder de 1,2 bilhão de católicos, a fumaça preta poderá ser observada pelos milhares de fiéis, turistas e romanos que costumam se reunir na Praça de São Pedro para assistir ao histórico evento. Ontem de manhã, foi instalada uma chaminé especial na Capela Sistina.

Duração A Constituição Apostólica prevê conclaves de até 34 dias interrompidos por um dia de descanso, mas no último século eles duraram no máximo quatro dias, devido ao intenso ritmo dos debates: às vezes, há quatro votações por dia, o que torna o processo mais célere. “No século 20, foram muito curtos: de dois, três a quatro dias. O candidato que recebe mais consenso aparece mais ou menos rápido”, assinalou Lombardi.

Ao que tudo indica, os cardeais de todo o mundo revisaram abertamente todos os problemas que atingem a milenar instituição, que atravessa uma crise de credibilidade depois de ter sido atingida por graves escândalos e controvérsias. Em uma conversa com a imprensa, o cardeal venezuelano Jorge Urosa Savino, um dos 19 eleitores provenientes da América Latina, afirmou que o sucessor de Bento XVI, que tornou efetiva sua renúncia em 28 de fevereiro, deverá ser, principalmente, um “homem de diálogo, de consenso”.

Doze candidatos figuram na lista de possíveis futuros papas, entre eles o cardeal italiano Angelo Scola, arcebispo de Milão, a cargo da maior diocese e, sobretudo, da escola onde se formaram muitos dos pontífices italianos. Sem um favorito, a lista do possível sucessor de Bento XVI inclui os nomes do brasileiro Odilo Scherer e do canadense Marc Ouellet, o cardeal com “alma de colombiano” por ter dirigido vários seminários nesse país.

Confusão Em 2005, quando os cardeais escolhiam o papa que sucederia João Paulo II, uma fumaça cinza confundiu os 40 mil fiéis que aguardavam ansiosamente pelo anúncio do novo pontífice. Durante cerca de cinco minutos, logo após o primeiro escrutínio, não se sabia se os cardeais haviam chegado a um consenso. Milhares de pessoas até comemoraram o resultado. Em seguida, porém, a tonalidade mudou para preto, indicando que o conclave ainda não havia chegado ao fim. Eles não teriam de esperar muito, contudo. Em menos de 24 horas, foi anunciado que Joseph Ratzinger era o novo papa.

77 Número mínimo de votos que um cardeal terá de receber para se tornar o sucessor de Bento XVI