Título: Brasileiros escolhem o papa
Autor: Amorim, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2013, Mundo, p. 16

Religiosos que vivem em roma esperam um pontífice aberto a mudanças estruturais, comprometido com o evangelho e carismático

Assim como no colégio cardinalício, não há um nome que desponte entre os religiosos brasileiros residentes em Roma como favorito para suceder Bento XVI. O perfil do novo pontífice indicado por padres, seminaristas e freiras como mais apropriado para o atual momento da Igreja varia bastante, embora todos concordem com a necessidade de um líder jovem, dinâmico e aberto a mudanças.

Na semana passada, enquanto os “príncipes de Igreja” se reuniam a portas fechadas no pré-conclave, o Correio conversou com 10 religiosos e pediu que eles elencassem características esperadas do próximo chefe da Igreja. Ao imaginarem o papa ideal, os entrevistados citaram seis nomes; entre eles, o do arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, e o do canadense Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos. Cada um recebeu três “votos”. Os dois italianos considerados mais fortes por vaticanistas — Angelo Scola e Gianfranco Ravasi — também foram lembrados, além de cardeais menos badalados, como o prefeito da Congregação para o Clero, o igualmente italiano Mauro Piacenza, e o hondurenho Óscar Rodríguez Maradiaga.

Estima-se que pelo menos mil brasileiros morem em seminários e casas religiosas de Roma, para onde são enviados em missão ou, na maioria dos casos, para estudar. Não é pequena a lista destrinchada por eles com virtudes sonhadas para o novo papa. “Ele deverá abraçar a intelectualidade de Bento XVI e trazer um pouco do carisma de João Paulo II”, tenta resumir o seminarista paraibano Alípio Moraes, 22 anos, há dois anos na capital italiana. No quesito nacionalidade, o padre potiguar José Mário de Medeiros, 70, tem opinião firme. “Não é possível que o Espírito Santo só possa iluminar quem nasça no continente europeu. Seria uma injustiça Dele”, dispara o diocesano, na torcida por dom Odilo. “A Igreja precisa ouvir outras vozes. Até hoje, os europeus praticamente monopolizaram a barca de Pedro”, reforça.

Desigualdade social Ainda que provoque mudanças internas e se mostre atento às transformações da sociedade, o novo líder terá o desafio de se manter fiel às doutrinas católicas, na opinião do seminarista mineiro Helton Ferreira Rodrigues, 25 anos. “Um novo papa não vem para mudar, para começar tudo do zero ou qualquer coisa do tipo. O perfil do papa é o perfil da Igreja, e ela não mudará de um dia para o outro”, argumenta. Sem deixar a espiritualidade de lado, o padre Roberto Cristino de Oliveira, 35, há seis meses em Roma, tem a expectativa de um papa com sensibilidade para as questões sociais. “A Igreja tem de tocar em assuntos como pobreza, desigualdade e injustiça social. Todo pai deve se preocupar com os menos favorecidos”, detalha, antes de completar que o eleito terá de dar continuidade ao avanço do diálogo interreligioso.

Em relação à postura do homem que passará a viver no Palácio Apostólico, as divergências sobressaem. “Para ajudar a conter a sangria de fiéis, está na hora de voltarmos a ter um papa carismático, capaz de agregar multidões”, defende o padre baiano Nicivaldo de Oliveira Evangelista, 38 anos. “Neste momento, a necessidade da Igreja é de um papa mais místico, mais espiritual, mais reservado”, pondera o sacerdote brasiliense Eduardo Peters, 35.

A idade se apresenta com um ponto consensual entre os religiosos: o novo papa, sustentam, não poderá ter mais do que 70 anos. Independentemente do vigor físico, da origem ou mesmo estilo, o padre Odinei da Silva Carneiro Neto, 30, de Tocantins, faz questão de deixar claro que tem rezado para que a partir da próxima terça-feira os cardeais entrem na Capela Sistina para escolher, antes de tudo, “um homem de fé”.

Palpites

As apostas dos 10 religiosos brasileiros ouvidos pelo Correio:

Cardeal - Votos Odilo Scherer (Brasil) - 3 Marc Ouellet (Canadá) - 3 Angelo Scola (Itália) - 1 Gianfranco Ravasi (Itália) - 1 Mauro Piacenza (Itália) - 1 Óscar Rodríguez Maradiaga (Honduras) - 1

Eu acho

“Espero que o novo pontífice seja um pai para todas as nações, que saiba acolher as mudanças da modernidade. Não é ele quem vai resolver todos os problemas da Igreja, mas se ele tiver sensibilidade para transmitir mensagens transformadoras, será o ideal para o momento.”

Aldemir Francisco Belaver, padre

“o próximo papa terá de dar mais abertura e mais dinamismo ao trabalho da Igreja. E não precisa ser um europeu para fazer isso. A gente precisa se acostumar com a ideia de ter um papa de outros lugares.”

Renata Aparecida Faian, freira