O Estado de São Paulo, n.46299, 22/07/2020. Política, p.A4

 

PF investiga caixa 2 a Serra e prende empresário

Daniel Weterman

Fausto Macedo

Paulo Roberto Netto

Pepita Ortega

Rayssa Motta

22/07/2020

 

 

Lava Jato . Policiais apuram repasse de R$ 5 milhões que teria sido feito por fundador da Qualicorp ao senador tucano em 2014 fora da prestação de contas; defesas negam ilícito

‘Paralelo 23’. Agentes na sede da PF em São Paulo com material apreendido na operação

Dezoito dias após ser denunciado por lavagem de dinheiro, o senador José Serra (PSDB-SP) foi alvo ontem de mais uma operação da Polícia Federal (PF). Desta vez, o tucano é suspeito de ter recebido R$ 5 milhões da administradora de planos de saúde Qualicorp em 2014, durante a campanha para o Senado, por meio de caixa 2. Pago em três parcelas, o dinheiro não teria sido declarado à Justiça Eleitoral, segundo os investigadores. O senador nega ter recebido vantagens ilícitas. Fundador e ex-presidente da empresa, José Seripieri Filho, o Júnior, apontado como responsável pelos repasses, foi preso preventivamente.

Atendendo à determinação do juiz Marco Antonio Martin Vargas, da 1.ª Zona Eleitoral de São Paulo, policiais cumpriram 15 mandados de busca e apreensão, um deles no apartamento funcional de Serra, em Brasília. Os agentes pretendiam apreender documentos e computadores também no gabinete do senador, mas foram impedidos por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.

O ministro foi provocado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Para o senador, a medida precisaria de aval do Supremo por envolver autoridade com foro. Toffoli concordou que uma varredura em computadores do Senado poderia encontrar fatos relacionados ao mandato de Serra, o que é competência do STF. A decisão reacendeu discussões sobre foro privilegiado que devem ser enfrentadas pela Corte em breve.

Por motivo semelhante, o juiz Vargas negou a apreensão do celular usado pelo parlamentar. Segundo ele, é "prudente" concluir que Serra usa o telefone para assuntos relacionados ao seu mandato. A defesa pode apresentar o aparelho caso entenda que não há "ingerência" no trabalho parlamentar.

A delação premiada que relata o suposto esquema de caixa 2 foi enviada para a Justiça Eleitoral paulista no início do ano passado. Segundo o delegado da PF Milton Fornazari Júnior, o expresidente da Qualicorp montou um esquema que envolvia outras empresas para ocultar a origem do dinheiro enviado a Serra. Para dissimular a doação não declarada, teriam sido feitos contratos falsos de prestação de serviços e compras de produtos. Suspeitos de envolvimento nessa rede de empresas fraudulentas, o publicitário Mino Mazzamati, o empresário Arthur Azevedo Filho e Rosa Maria Garcia, também foram presos temporariamente ontem. Seus advogados não foram localizados para comentar a operação. Fornazari não informou se Júnior recebeu alguma vantagem em troca da doação.

Defesa. Com 78 anos, Serra está internado para tratamento médico desde meados de junho em um spa no interior de São Paulo. Ele segue trabalhando remotamente. A defesa do senador reagiu à operação com "absoluta estupefação". "É ilegal, abusiva e acintosa a atuação dos órgãos de investigação no presente caso, ao tratar de fatos antigos, prescritos, para gerar investigações sigilosas e desconhecidas do senador e de sua defesa e nas quais ele nunca teve a oportunidade de ser ouvido", informaram, por nota, os advogados Sepúlveda Pertence e Flávia Rahal.

Representante de Júnior, o advogado Celso Vilardi afirmou que a prisão temporária do empresário é "injustificável", já que os fatos investigados ocorreram há seis anos. Segundo ele, os delatores não dizem que Júnior fez as doações. "Relatam que ele fez um mero pedido de doação em favor de José Serra e que a decisão de fazer a doação, assim como a forma eleita, foi decisão de um dos colaboradores", afirmou.

A Qualicorp informou que "adotará as medidas necessárias para apuração completa dos fatos".