O Estado de São Paulo, n.46299, 22/07/2020. Metrópole, p.A21

 

HC começa os testes com vacina da China

Gonçalo Junior

22/07/2020

 

 

Experiência será feita com 890 voluntários e resultados devem sair em até 90 dias

‘Momento histórico”. Sob o olhar do governador Doria, a médica Stefania recebe a primeira dose da vacina chinesa no HC

A médica Stefania Teixeira Porto, de 27 anos, que atua no Hospital das Clínicas, foi a primeira voluntária a receber a vacina contra o novo coronavírus desenvolvida pelo Instituto Butantã em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. Foi ontem de manhã, pouco antes do anúncio oficial dos testes feito em entgrevista coletiva pelo governador João Doria.

"Estou contente de participar dessa experiência. É um momento único e histórico", disse a médica – que em seguida foi submetida a vários testes e passou um período em observação no próprio HC. "Foi isso que me fez participar desse projeto e fazer parte desse momento. A gente passou por meses tão difíceis. É uma injeção de ânimo poder participar disso e contar para as pessoas, no futuro, que eu fiz parte disso." Por causa do desgaste físico, ela cancelou a entrevista coletiva programada e enviou mensagem de vídeo por meio da Secretaria de Saúde.

A primeira dose está sendo aplicada em 890 voluntários do HC e da Faculdade de Medicina da USP. A segunda dose será daqui em 14 dias e, durante esse período, os voluntários serão acompanhados por uma equipe especializada. Ao todo, 9 mil voluntários vão receber a vacina em 12 centros de pesquisa. O governo estima que o estudo deverá ser concluído em cerca de 90 dias. Se os testes forem bem-sucedidos, a vacina pode começar a ser produzida no início de 2021.

Na entrevista, Doria também comemorou a experiência. "É um dia histórico, dia 21 de julho. Um dia de orgulho para São Paulo e para o Brasil. Acabamos de presenciar a aplicação da primeira dose de vacina", disse o governador logo na abertura de sua mensagem aos jornalistas.

Terceira fase. O médico Esper Kallás, coordenador do Centro de Pesquisas Clínicas do Instituto Central do Hospital das Clínicas FMUSP, explica que esta é a terceira fase de testes da vacina, mas a primeira realizada no Brasil. As duas fases anteriores foram bem-sucedidas.

Esses novos testes, lembra Kallás, serão feitos em larga escala e precisam fornecer uma avaliação definitiva da eficácia e segurança. Ou seja, a vacina precisa ser capaz de criar anticorpos para imunizar contra a covid-19. "Ao longo da semana, vamos continuar vacinando os voluntários. Os profissionais

de saúde foram escolhidos porque eles têm um risco maior de exposição ao coronavírus e podem ser protegidos mais rapidamente pela vacina", destacou o médico.

O Hospital das Clínicas está encarregado de coordenar o estudo clínico a ser realizado em 12 centros de pesquisa de 5 Estados e do Distrito Federal.

Esper Kallas, que trabalha no departamento de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP, explica que, ao longo da semana, a vacinação dos profissionais voluntários terá prosseguimento. Os testes fazem parte de uma parceria com o Instituto Butantã. Inicialmente, o governo estadual havia anunciado que essa etapa deveria ter começado já na segundafeira, mas não foi possível porque houve atraso para liberação das doses no aeroporto. O "pacote"de vacinas, que foi mandado direto da China, fez uma escala em Frankfurt, na Alemanha, antes de desembarcar no Brasil.

De acordo com o governo estadual, o Instituto Butantã está empenhado em adaptar uma fábrica para a produção da vacina. A capacidade de produção esperada é de até 100 milhões de doses. O acordo com o laboratório chinês Sinovac prevê que, se a vacina for efetiva, o Brasil receberá ainda 60 milhões de doses fabricadas na China para distribuição interna.