Título: Sinal verde para o conclave
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 09/03/2013, Mundo, p. 18

Com um nome brasileiro entre os mais fortes candidatos, o conclave que escolherá o sucessor do papa Bento XVI terá início na próxima terça-feira. A data foi anunciada pela Santa Sé ontem em meio a uma grande expectativa e após cinco dias de reuniões preparatórias, as chamadas Congregações Gerais. As deliberações secretas ao longo da última semana no Vaticano deram margem para muitas especulações sobre temas tratados e prováveis papáveis. Nesse período, dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, ganhou força e, ontem, seu nome aparecia como uma das grandes apostas na mídia internacional. O próximo papa assumirá a Igreja após a histórica renúncia de Bento XVI, em 28 de fevereiro, a primeira em seis séculos.

Pelas regras da Igreja Católica, os cardeais participarão primeiro de uma missa e, depois, ficarão confinados na Capela Sistina realizando votações sucessivas até que haja um consenso. Para ser escolhido pontífice, o candidato precisa receber pelo menos dois terços do escrutínio. A regra é diferente da que prevalecia em 2005, quando a maioria simples dos votos bastava.

Do total de 117 cardeais com menos de 80 anos aptos a votar no conclave, dois não participarão: ocardeal Julius Riyadi Darmaatmadja, da Indonésia, que alegou motivos de saúde, e Keith O"Brien, único representante da Grã-Bretanha, que renunciou depois de admitir "atos inapropriados" com jovens seminaristas nos anos 1980. A duração do conclave é uma incógnita e pode levar dias. Mas, se repetir o de João Paulo II e o de Bento XVI, com dois dias cada, a Igreja poderá conhecer seu novo líder até quinta-feira.

Não há um claro favorito para substituir Bento XVI. Apesar do voto de silêncio dos cardeais durante semana, a imprensa italiana e internacional não deixou de especular sobre os mais cotados. Repetindo os últimos dias, o nome de dom Odilo foi citado. O La Stampa escreveu que haveria uma divisão entre aqueles que apoiam o brasileiro e os que preferem o arcebispo de Milão, Angelo Scola. O último, considerado um reformista, teria o voto de vários dos cardeais americanos e europeus. Dom Odilo, que o jornal disse contar com um maior número de votos, é bem-visto por sua longa experiência na Cúria e seria endossado por influentes cardeais italianos.

O La Reppublica, por sua vez, afirmou haver uma negociação entre os italianos, em maior número, 28, e mais influentes. O objetivo seria recuperar o prestígio, após os escândalos do caso Vatileaks, que revelou uma série de irregularidades na cúpula da Igreja. Mas eles também estariam divididos entre Odilo e Scola.

Além disso, os próprios jornais italianos lembraram que os conclaves podem revelar surpresas, como foi o caso de João Paulo II, em 1978. Não cotado como favorito, seu nome emergiu no segundo dia da votação secreta. O especialista em História das Religiões da Universidade Estadual Paulista (Unesp/Franca) Ivan Manoel lembrou que sua eleição resultou de um acordo do qual ninguém esperava, e o mesmo não está descartado dessa vez. "Para a política mundial, na época, foi a pessoa perfeita", disse. Manoel levantou ainda possibilidade de Bento XVI, apesar de dizer que não influenciaria o conclave, estar sendo consultado e já ter "emplacado sua posição".

Independentemente de ser citado nas conversações entre os cardeais, o nome de dom Odilo tem aparecido com frequência nas listas de apostas e previsões. "As manifestações em torno de dom Odilo mostram que ele está muito prestigiado no cenário internacional e é reconhecido dentro das referências do conclave. Mas, se vai ser papa, não existe essa resposta automática", opinou o coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-São Paulo, Francisco Borba.

Os cardeais devem se encontrar mais uma vez hoje. Os trabalhadores na Capela Sistina correm agora contra o tempo para terminar os ajustes antes da chegada dos "príncipes da Igreja". Ontem, eles terminaram de instalar dispositivos para desativar sinais de celulares.