O globo, n. 31834, 03/10/2020. País, p. 10

 

Can­di­da­tos re­de­fi­nem es­tra­té­gi­as após de­ba­te

João Paulo Saconi

Luiz Ernesto Magalhães

Bernardo Mello

Alice Cravo

03/10/2020

 

 

Martha Rocha avalia que embates com Paes tiveram efeito positivo, mas planeja contra-ataque quando adversários lembrarem passagem no governo Cabral. Já Crivella vai direcionar artilharia para Luiz Lima
Primeiro encontro entre candidatos à Prefeitura do Rio, o debate da Band, que ocorreu na noite de quinta-feira, serviu de primeiro teste e fez com que as campanhas redefinissem estratégias para os pouco mais de 40 dias até o primeiro turno do pleito. O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), que teve embates com a concorrente do PDT, Martha Rocha, foi aconselhado por aliados a reduzir o tom nos enfrentamentos, para não parecer agressivo. Em um dos momentos, ao tratar das finanças da cidade, Paes chegou a dizer que não sabia se a adversária compreenderia o que ele estava explicando. Segundo um aliado, o exprefeito não pode “transformar Martha em vítima”, já que a ex-chefe de Polícia Civil é vista como um nome que pode avançar sobre eleitores de Paes.

Outra preocupação é que a postura soe machista e afaste o eleitorado feminino, o que já prejudicou a candidatura do deputado federal Pedro Paulo em 2016, após a acusação de que ele agrediu a ex-mulher. Já nos bastidores da campanha de Martha, houve a percepção de que o embate ajudou a destacar a presença da delegada na eleição, uma vez que ela não teve a mesma vitrine que Paes e Crivella experimentaram à frente da prefeitura. A candidata do PDT, no entanto, decidiu que, daqui para frente, vai contra-atacar quando adversários citarem sua passagem pela chefia da Polícia Civil no governo de Sérgio Cabral, preso por corrupção. No debate, ela deixou a menção feita por Paes passar em branco, mas de agora em diante passará a defender que sua nomeação e atuação foram técnicas, sem interferência política do então governador. Outra possibilidade é lembrar que Paes foi aliado de Cabral, já que ambos estiveram anos juntos no MDB. O prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que tenta a reeleição, ficou satisfeito com o desempenho de Martha diante de Paes e chegou a mandar uma mensagem parabenizando a candidata do PDT. Ele também trocou elogios com Glória Heloíza (PSC), outra concorrente que não fez ataques diretos ao prefeito. Na avaliação de um aliado de Crivella, Martha percebeu que o eleitor do Paes, se mudar de opção, tende a votar nela, o que não aconteceria com os apoiadores de Crivella. Aliados do prefeito também avaliam que foi bem sucedida a estratégia de acenar ao eleitorado conservador e participar apenas de forma reativa dos embates com outros candidatos. De acordo com aliados,

Crivella tentará daqui para frente “reforçar a posição de conservador sem ficar batendo boca”, mas com a preocupação de responder críticas à atual gestão. Segundo um correligionário do prefeito, a ideia é dosar o número de referências ao presidente Jair Bolsonaro, para evitar a impressão de que o apoio de Brasília se sobrepõe à gestão municipal. Crivella citou Bolsonaro apenas uma vez, quando travou um embate com Luiz Lima (PSL), que também busca o voto bolsonarista.

Assim como no primeiro debate, Crivella evitará disputas com o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), a quem espera enfrentar em um eventual segundo turno. O prefeito também pretende explorar mais, nos próximos encontros, a suspensão do pedágio da Linha Amarela, tema citado apenas em suas considerações finais, e que normalmente é usado como munição contra Paes. Numa analogia com o futebol, aliados do prefeito avaliaram que o placar do primeiro debate foi um “zero a zero”. A aposta é que, em um eventual segundo turno, a entrada de Bolsonaro na campanha poderá fazer a diferença. Enquanto no debate o prefeito evitou iniciar ataques, nas redes sociais a campanha de Crivella planeja intensificar a ofensiva contra Luiz Lima, que tem o apoio de parte da bancada bolsonarista no Congresso, formada por parlamentares ativos no ambiente virtual. O ex-deputado Rodrigo Bethlem, estrategista eleitoral de Crivella, tem gravado vídeos questionando a fidelidade de Lima a Bolsonaro pelo fato de o parlamentar ser próximo à cúpula nacional do PSL, que ainda está em processo de reaproximação com o presidente após um racha no fim de 2019. Os vídeos de Bethlem são sempre replicados em grupos de Facebook que reúnem milhares de apoiadores do prefeito.

 BENEDITA: FOCO NOS JOVENS

Já a campanha de Benedita da Silva (PT) avalia que a discussão dela com o prefeito sobre o tomógrafo instalado em uma Igreja Universal na na Rocinha rendeu frutos positivos para a petista. Aliados apontaram que esse foi o momento de maior engajamento da candidata nas redes sociais. Correligionários também afirmam que a estratégia de se apresentar ao eleitorado mais jovem funcionou e, por isso, continuará sendo seguida ao longo da campanha, especialmente durante a propaganda eleitoral na televisão, que começará na próxima sexta-feira.